Visita real – 2º dia – Juana morto

Mais uma vez, vou começar com um pouco da história do projeto. Como eu comentei em outro post, Aruba tem uma deficiência grande de infraestrutura de espaço público. Isso é especialmente notável nos bairros, onde poucas vezes existe uma calçada decente, a iluminação é deficiente, além de normalmente usarem aqueles postes horríveis com fios que ficam expostos, cheios de restos de pipas.
Até pouco tempo atrás, todos os governos estavam sempre focando em melhorar a parte que os turistas visitam, enquanto os bairros continuavam com uma aparência bem terceiro mundista (eu notei isso principalmente depois que conheci Curaçao, que tem uma aparência bem melhor que Aruba em termos de infraestrutura). É desse contexto que vem a proposta atual, que foi criada a partir de um modelo de bairro criado por meu marido. Esse modelo abrange espaço para pedestres, iluminação, arborização, espaços para convívio social, etc. Há alguns meses atrás resolveram escolher um bairro que pudesse ser usado como modelo e o bairro escolhido foi juana morto.
Esse bairro provavelmente está entre os bairro mais necessitados da ilha. Em termos de Aruba, ele fica onde o gato perdeu as botas. Está ao final de San Nicolas, depois do centro, depois que se passa por tudo o que há de passar. É literalmente, o mais longe que se pode chegar naquela parte da ilha. Depois dele não há mais nada. Esse bairro é de casas populares construídas pelo governo há alguns anos. São casas minúsculas, de quarto e sala e os moradores pagam ao governo um aluguel de menos de 50 reais por mês.
Antes de iniciar-se o projeto, não havia iluminação pública e o ônibus não chegava lá. Isso significa que os moradores tinham que descer em outro bairro e caminhar a pé na escuridão para chegar às suas casas. O bairro é pequeno, só tem 4 ruas e apenas a primeira foi remodelada nessa primeira fase. Como as outras ruas continuam como inicialmente, foi possível para a rainha e sua comitiva verem a diferença que a remodelação fez.

Aqui estão algumas fotos das casas ainda não remodeladas.

Ruas de terra da parte não remodelada

Ruas de terra da parte não remodelada

casa da parte não remodelada

E aqui algumas fotos da parte remodelada.

As casas passaram a ter muro e pérgola para proteger do sol

As casas passaram a ter muro e pérgola para proteger do sol

Um dos problemas que os moradores enfrentavam era ter formas de amenizar o calor. A grande maioria não tem ar condicionado e se tivessem não teriam como pagar a eletricidade (que aqui vale ouro, na nossa casa pagamos mais de 500 reais por mês só de luz). Então muitos começavam a plantar àrvores grandes perto das casas. O problema das árvores é que à medida que elas cresciam, elas afetavam a fundação das casas e começavam a aparecer rachaduras.

casa com painel solar

Nos telhados foram instalados painéis solares para ajudar com a conta de luz, caso eles possam comprar ar-condicionado (acreditem, aqui em Aruba isso é uma necessidade). E os telhados foram pintados de branco, o que por si só diminui o gasto com ar condicionado em 20%, já que ajuda a refletir o sol. A propósito, no Brasil também existe um projeto que informa os benefícios dos telhados brancos, é o projeto One Degree Less, se quiserem saber mais, cliquem aqui.

Detalhe da rua e da calçada

Na frente das casas, foram instalados postes de luz, calçadas decentes, lugares para estacionar e foi plantada uma árvore grande a cada duas casas.

Vista geral da rua remodelada

Aqui dá pra ter uma visão geral de como ficou essa primeira rua. Ao final dela, foi feita uma rotatória para a nova rota do ônibus e também um gazebo. Eu não sei se existe esse nome em português, mas é uma estrutura em forma de um coreto. Esse gazebo foi pedido pelos moradores para que seja um espaço onde eles possam confratenizar nos fins de semana, jogar cartas, dominó, fazer um churrasco, etc. Ao longe, bem pequenininho, quase não se pode ver, foi instalado um telefone público, já que alguns moradores não tem telefone.

Agora vamos à visita da rainha. A visita estava marcada para as 11h, mas o ônibus dela chegou com meia hora de atraso porque eles foram antes ao parque Arikok para fazer uma visita. Eu tenho que tirar o chapéu para a rainha porque nesse dia em particular, o sol estava de rachar e fazia um calor dos infernos. Mesmo assim, ela sorriu o tempo todo, foi simpática, atenciosa e escutou tudo com atenção. Considerando que ela tem 73 anos, eu acho louvável essa disposição toda.

Nessa visita em particular, o acesso foi um pouco restringido. Como o bairro é muito pequeno e há poucos lugares para estacionar, eles resolveram que os carros fossem estacionados a umas 6 quadras de distância. De lá, era preciso vir a pé. O legal é que a maioria das pessoas que estavam lá eram moradores de San Nicolas e, como foi num sábado, muitos que não puderam ir ao linear park no dia anterior, puderam estar presentes.

Jornalistas a postos para a chegada da Rainha

Jornalistas a postos para a chegada da Rainha

A guarda real estava espalhada por todo o bairro

A guarda real estava espalhada por todo o bairro

casa enfeitada

Alguns moradores enfeitaram a casa para a visita

Sua Majestade a Rainha

Sua Majestade a Rainha

Princesa Máxima e Príncipe Willem

A Princesa Máxima, sempre simpática e elegante

O programa lá durou uma hora: primeiro falaram com os representantes do departamento de habitação social, depois com os moradores, assistiram a uma apresentação de dança típica, visitaram uma casa ainda não remodelada, ouviram a explicação do meu marido tanto do projeto de bairros quanto da renovação específica desse bairro e depois visitaram uma casa remodelada. Eles foram simpáticos, fizeram comentários sobre as cores, a iluminação e expressaram o desejo de que o projeto continue.

A princesa prestando atenção às explicações do maridão

A princesa prestando atenção às explicações do maridão

A parte anedótica da visita foi a hora em que o príncipe entrou no ônibus com ar-condicionado. Ele se deixou cair na cadeira como se estivesse quase desmaiando. Todo mundo ficou comentando que, se para nós já fazia muitíssimo calor, como eles não deviam estar se sentindo.

Para quem ficou curioso sobre o nome do bairro. Aparentemente, há muitos anos uma mulher chamada Juana foi encontrada morta por lá. Já houve quem sugerisse que com a remodelação, o nome deveria mudar para juana vivo, mas os moradores já se apegaram ao nome. Tem gosto pra tudo.

Convite real

Algumas pessoas ficaram curiosas acerca da recepção que eu não fui, hehehe. Não tenho nenhuma foto dela, e acho que ninguém tem porque era proibido, então vou contribuir com o que eu posso. Eu imagino que a maioria de vocês nunca tenha recebido ou sequer visto um convite real, por isso resolvi por o que meu marido recebeu aqui.

Brasã da família real holandesa

A capa do convite tem o brasão real holandês, com a inscrição em francês arcaico “Je maintiendrai”, ou “Eu manterei”. Esse lema é símbolo da disnastia de Orange desde tempos remotos, antes que parte deles fosse para a Holanda e se tornasse a família real.

texto do convite real

O convite foi feito pelo governador de Aruba. Esse governador não é eleito, mas sim indicado pelo parlamento holandês para representar o estado aqui. E eles foram oficialmente os anfitriões da Rainha Beatrix, já que ela não tem ligação com o chefe de governo nem com nenhum partido político.

O convite inicia com os nomes do governador e de sua esposa convidando para a recepção por ocasião da visita da Sua Majestade a Rainha.

Depois vem a data e a localização: o grande salão de festas do hotel Hyatt. Abaixo vem qual a roupa a ser usada: terno de negócios. E pede a confirmação da presença.

À parte, veio um cartão com recomendações para a ocasião:

recomendações do convite real

  • Este convite é estritamente pessoal e não lhe dá direito a acompanhante.
  • O senhor precisa mostrar esse convite para poder ter acesso.
  • A sua presença é esperada entre as 20.00 e às 20.30. Às 20.30 o salão será fechado por razões de segurança para a chegada da rainha e de sua comitiva.
  • O senhor deverá acercar-se à mesa com a letra indicada no seu convite.
  • Não é permitido fumar na recepção.
  • Espera-se que o senhor apague o seu telefone celular à chegada.
  • Não é permitido tirar fotografias durante a recepção.

Agora, o que contou meu marido: não foi um jantar, foi uma recepção com bebidas e uns 10 tipos de amuse bouche, que segundo ele eram deliciosos e foram servidos constantemente. Obviamente, não deu para a rainha conversar com todo mundo. Ela foi tentando passar em todas as mesas, mas como demorou em algumas não chegou a ter passado em todas no final da recepção.

Visita real – 1º dia – Linear Park

Em primeira mão, aqui está o meu relato do primeiro dia da visita real em Aruba. :)  A visita começou na parte da manhã com um ato de boas-vindas oficial em frente ao parlamento. Eu não fui por dois motivos: precisava correr atrás de sapatos novos para meu marido e a escola da minha filha não estava lá. Explico: algumas classes de algumas escolas foram escolhidas para cantar para a família real. Uma das minhas sobrinhas estava lá junto com a classe, mas claro que nem todas as crianças de todas as escolas estavam. Como eu não tinha grandes motivos para ir e o trânsito estava insuportável, devido ao grande número de ruas fechadas, não me animei. De todos os modos, estávamos todos nos preparando para a festa na parte da tarde.

Para que vocês vejam como eles estavam na parte da manhã, vou postar uma foto do jornal. Agora, papo de mulherzinha: adorei todas as roupas da princesa Máxima. Ela usou vestidos leves, cores bonitas e chapéus elegantes. Foi uma grata surpresa, porque não gostei das roupas que ela usou nos casamentos reais desse ano. O corpo dela também é ótimo, magra sem ser magrela. E o que causou admiração foi sua altura! Ela deve ter mais de 1,80m, porque com o salto ficava quase da altura do marido, que dizem que tem quase 2m. E isso que ela usou saltos médios, não foram agulha, não. Depois vocês vão ver uma foto com o detalhe do sapato.

foto: jornal on line 24ora

foto: jornal on-line 24ora

O grande evento do primeiro dia para nós foi a festa no linear park. Deixe-me explicar um pouco o contexto: em fevereiro, a casa real anunciou a visita da rainha por todas as seis ilhas holandesas do Caribe. Essa é uma visita de despedida, é a última vez que ela visita as ilhas como chefe de estado. Ao parecer, ela decidiu se aposentar, ou abdicar, não sei qual o termo correto, mas ela vai passar o comando do estado para o filho, que em breve vai tornar-se rei. Naquela época foi decidido o que ia ser mostrado para ela na sua visita, em termos de obras e decidiram mostrar os dois grandes projetos que estão sendo feitos em Aruba atualmente: o parque linear que vai percorrer todo o litoral e a remodelação dos bairros. Meu marido é o arquiteto responsável por ambos os projetos, então esteve intimamente envolvido em toda a correria para deixar tudo pronto a tempo.

Para tentar explicar um pouco o que é um parque linear: é uma faixa urbana, normalmente um curso de água modelada para uso público. Aqui em Aruba, o parque linear fica ao longo de um trecho de litoral. Exceto pelas praias dos hotéis, as outras praias de Aruba não tinham nenhum elemento para uso público: o estacionamento é inexistente ou escasso (as pessoas sobem com os carros em cima da praia), não existe calçadão para caminhar, não existem bancos, cestos de lixo, a iluminação é deficiente ou inexistente, não existem barraquinhas vendendo comida ou bebida. Então essa primeira fase dá uma idéia de tudo o que vai ser o litoral de Aruba daqui pra frente, à medida que o projeto avance.

Para comemorar a vinda da rainha e a inauguração do parque, foram montados stands e palcos para os representantes dos maiores grupos de imigrantes da ilha: Filipinas, Índia, China, Venezuela, Colômbia e República Dominicana, que juntamente com Aruba mostraram coisas da sua cultura: danças, comidas e tradições.

A rainha e sua comitiva (entre os quais meu marido) passaram por cada palco, onde cada grupo fez uma apresentação de 5 min. cada. O último stand, que foi o de Aruba, só fez a apresentação depois que a rainha sentou-se e só então, vários tipos de dança foram apresentados. Depois dessa apresentação, o ministro presidente e a rainha fizeram pequenos discursos e a festa terminou com um grupo de carnaval. O carnaval aqui não é ao ritmo de samba, mas sim ao ritmo de brass band, que além dos instrumentos de percussão do Brasil tem também metais (trompetas, etc). A festa terminou com a família real vindo detrás do grupo de carnaval e tanto a rainha quanto os príncipes acabaram dançando. Ao parecer isso foi algo totalmente inesperado. Os jornalistas holandeses estavam alucinando porque foi a primeira vez que ela foi vista dançando em toda a sua vida pública. Um deles dizia para as câmeras: temos um momento histórico acontecendo aqui! A rainha está dançando ao ritmo de carnaval!

Enfim, a festa foi ótima e depois que a família real se foi, muitos grupos continuaram a se apresentar nos diferentes palcos. A seguir fotos:

vista da entrada do parque

A entrada do parque especialmente montada para a Rainha

placa comemorativa

Placa comemorativa da visita e da inauguração

filhota com a placa comemorativa

A filhota achou que a foto ficaria melhor com ela

vista stand Filipinas

O stand das Filipinas ainda não estava pronto quando eu passei por lá

Portugal

Portugal

Quando se fala em Portugal aqui em Aruba, ou em Curaçao, onde a colônia é maior ainda, estamos sempre nos referindo à ilha da Madeira. Quase todos os imigrantes portugueses que vieram para cá são de Madeira, não me perguntem o porquê. Muitos deles já deixaram de falar português, aliás, no dia da festa foi a primeira vez que eu ouvi pessoas conversando em português que não eram brasileiros. E isso que eu conheço vários descendentes de portugueses, mas que já não falam a língua. Alguns falam em casa papiamento, qué o idioma da ilha e outros falam inglês, sim inglês. Porque em algum momento, seus ancestrais acharam que era mais importante que os filhos soubessem inglês que a língua deles. Temos casos assim até dentro da família: uma prima de meu marido é casada com um português que só fala inglês com os filhos. Enfim, mentalidade colonizada, acho eu.
gajos
rapariga com roupa típica
detalhe do stand
stand da India

Esse grupo da Índia dançou uma dança tradicional

Existem muitos indianos e descendentes em Aruba. Também não sei a origem dessa imigração. Só sei que normalmente eles falam inglês entre si e que quase todas as lojas de eletro-eletrônicos pertencem a eles. Na rua principal, a maioria do comércio de roupas também é dessa colônia.

índia
pintura de mãos

Pintura de mãos

stand da Venezuela

Achei super curioso esse cartaz do Hugo Chávez no stand da Venezuela. Como os organizadores do stand eram do próprio consulado, imagino que eles tinham diretrizes para fazer isso.
grupos de dança

Grupos de dança da Venezuela

redes

Adorei as redes venezuelanas

A Venezuela tinha muitos e variados produtos artesanais

A Venezuela também apresentou produtos artesanais

A República Dominicana também fez um stand grande. Quando as dançarinas viram que eu estava tirando fotos, elas fizeram essa pose simpática. 😀 Um dos grandes pontos de encontro de dominicanos em Aruba é uma quitanda chamada Frutería Santo Domingo, no centro. Eles tiveram a boa idéia de montar uma barraquinha que estava vendendo sucos frequíssimos de fruta. Delícia! A maioria dos descendentes de dominicanos joga baseball e recententemente, os júniores de Aruba foram vice-campeões mundiais. Vejam bem: Aruba, com seus menos de cem mil habitantes, foi capaz de montar um time que jogou contra EUA, Cuba, México e outros grandes do baseball mundial.
dançarinas da Venezuela

Dançarinas da Venezuela

fruteria Santo Domingo

Fruteria Santo Domingo

Dominicana com traje típico

Dominicana com traje típico

O stand de Aruba acabou sendo pequeno em comparação com os outros. A explicação é que lá não iam acontecer as danças, que foram exibidas na praça à frente do palco onde estava a rainha. Eu adorei a bandeira de balões. Os outros símbolos representados são a babosa, o barco de pescador e o burrinho.

bandeira de balões

Bandeira de balões

stand de Aruba

stand de Aruba

Acabei não tirando fotos do stand da Colômbia porque a filhota resolveu capotar no meu braço. Como ela tem 4 anos e 18kg, não é que dá pra ficar andando com ela por aí como se nada. Daí, preferi sentar num lugar para que ela pudesse descansar do sol inclemente na cabeça. O bom foi que deu pra ela dormir uma hora até que a rainha finalmente chegasse.
cactus estilizados

Artistas plásticos locais fizeram sua versão do cactus típico

Aruba recebeu duas visitas de assessores da casa real que cuidam da preparação das visitas esse ano. Foram eles que decidiram muitas coisas sobre como ia ser a visita. Uma das coisas que eles decidiram é que não ia ter um cordão de policiais ou uma grade separando a população dos membros da realeza. Eles pediram expressamente que fosse gente do povo que fizesse o cordão. E assim foi: onde eu fiquei, quem fazia o cordão eram estudantes de karatê e membros da equipe vice-campeã de baseball.

cordão humano

Cordão humano

Curiosamente, esses mesmos assessores haviam dito previamente que o príncipe Willem ia usar terno e gravata em todas as ocasiões. A maneira que ele se veste dita o tom da roupa dos anfitriões também. Por isso estivemos correndo atrás de ternos, camisas, gravatas e sapatos apropriados para as três ocasiões em que meu marido ia ter contato com a realeza. Mas, no primeiro evento da visita, que foi na parte da manhã, em frente ao parlamento, o príncipe percebeu que terno e gravata em eventos ao ar livre em Aruba não eram uma boa ideia e poucos minutos antes deles chegarem ao parque, houve um aviso de que ele viria só de camisa, sem gravata. Alguns membros da comitiva local, que tinham o carro perto, conseguiram tirar a parte de cima do terno. Outros, como meu marido, só tiveram tempo de tirar a gravata e colocar no bolso. :p

Agora, se alguém tem dúvida que eu vi a realeza de perto, vejam as fotos.
Rainha vendo o show da Colômbia

Enquanto a Rainha via o show, eu fiquei paradinha esperando ela chegar

a Rainha e o ministro de turismo

A Rainha e o ministro de turismo

princesa Máxima de perto

A princesa Máxima parabenizando os vice-campões do baseball

foto maridão

Maridão fazendo bonito para a realeza

maridao sentado na 1a fila

Maridão sentado na 1ª fila, pertinho da Rainha

maridao e a princesa

Batendo papo com a Princesa. Olha o detalhe do sapato lindíssimo.

passistas

Passistas se preparando para a apresentação

Se alguém quiser ver mais como foi a visita ao linear park, um jornal local produziu um vídeo de 17 min, onde se pode ver até a rainha dançando, hehehe. Veja aqui.
Vou organizar as fotos da visita ao bairro remodelado para o próximo post.
Update: Consegui achar duas fotos minhas na festa. Saíram na página oficial de Aruba do facebook. Foram tomadas bem no momento que eu tirei a foto da princesa Máxima:
foto da pagina oficial de Aruba

Essa tem um pedacinho do meu perfil e a filhota com a mão na boca sem entender nada

eu tirando foto da princesa

Essa apareceu bem

Eu quero ver a rainha

foto da família real holandesa

Foto oficial da família real

Aruba está em polvorosa pela visita da rainha Beatrix e do príncipe herdeiro Willem Alexander. Ela já veio várias vezes, assim como ele, mas a grande novidade é que a princesa Máxima também vai vir dessa vez.

Eles terão somente dois dias de visita, com atividades programadas para todo o dia de 6ª feira e todo o dia de sábado. O programa da 6ª f. à tarde vai ser uma grande festa popular que vai inaugurar a primeira fase do parque linear que meu marido está fazendo. Vários palcos vão ser montados na praça principal e haverão shows com música e danças populares. A festa vai começar às 15h e todo mundo está com os dedos cruzados para que não chova, coisa que na atual temporada está difícil de prever. Como Aruba é uma ilha de imigrantes, várias associações culturais dos países cuja imigração foi mais dominante na ilha, como Venezuela, República Dominicana, China e Tailândia vão estar se apresentando e vendendo comida típica de seus países. Claro que as tradições de dança e culinária arubianas também farão parte do evento.

Às 16:30h, meu digníssimo consorte vai acompanhar a rainha e os príncipes por um tour pela praça e mostrar a primeira parte do parque e no sábado de manhã ele vai acompanhá-la numa visita a um bairro que foi remodelado e que é a primeira parte do projeto de barrios. Na 6ª f. à noite, vai haver um jantar de gala e ele foi convidado (sozinho, sem direito a acompanhante). Isso deixou a nossa casa em polvorosa, não só pela quantidade de trabalho que ele está tendo para que tudo fique pronto a tempo, mas também tivemos que correr atrás de três ternos diferentes e novos para não fazer feio. Como eu não fui convidada para nada, vou aproveitar a festa popular para ver os shows, até porque num dos palcos vai estar uma das minhas sobrinhas que toca violino numa orquestra juvenil. E vou dar rolê por lá, quem sabe num momento meu marido me dá tchau e eu sou apresentada à rainha? Huahuahua.

Acho que nem deixariam, porque ele teve que passar por toda uma tarde de aula de protocolo só para saber como tratar a realeza. Existem umas regras de alinhamento entre o braço direito dos monarcas e seus interlocutores, quando se dobra os joelhos e até onde, entre outras coisinhas curiosas mais. Como todos os arubianos são poliglotas e estavam loucos para conversar com a princesa Máxima em espanhol, os especialistas em protocolo já avisaram que não funciona assim. A regra é que quem determina o idioma a ser usado é a própria princesa. Se ela conversar em holandês, o interlocutor continua a conversa nessa língua. Assim que eu duvido que ela vai iniciar uma conversa em espanhol do nada, até porque até onde eu sei nem o príncipe nem a rainha entendem essa língua.

Aguardem o próximo post com fotos da festa e, quem sabe, da realeza. 😉

Então é natal

Na 6ª feira começou a temporada oficial de natal em Aruba. Embora já estejam à venda decorações natalinas nos supermercados desde o final de agosto o início da temporada oficial significa que as rádios e emissoras locais de tv passam a tocar música natalina.

Muitos grupos, mas muitos mesmo, lançam os seus cds ou singles. O ritmo é a gaita, um ritmo tradicional venezuelano que fez raízes aqui e é o ritmo oficial de natal. Para que vocês vejam o que é a gaita, vejam o vídeo desse grupo bem tradicional de gaita arubiana:

O ritmo é super animado, o que combina com meu espírito, porque sempre adorei as festas de fim de ano, e como a tradição local tem tudo a ver com festividade, eu fico mais animada ainda. Nessa temporada, esses grupos de gaita são onipresentes: em confraternizações de trabalho, festas de bairro, na frente de lojas que fazem promoções e nos estacionamentos dos supermercados quando eles começam a vender pinheiros.

Uma das diferenças das festas de fim ano em Aruba é a ausência do papai noel. O roteiro dele não inclui Aruba, hehehe, quem vem é o Sinterklaas (o verdadeiro São Nicolau, precursor do papai noel da coca-cola, o Santa Claus), no dia 5 de dezembro, numa festa equivalente ao dia das crianças brasileiro. Ainda vou fazer um post só para ele porque é uma festa muito tradicional que vale a pena explicar em detalhes. Mas o natal mesmo tem um sentido acima de tudo, religioso, em Aruba. A grande maioria das músicas comemoram o nascimento de Jesus e convidam a celebrar a vida.

Só depois de passar alguns natais aqui é que pude entender o incômodo que meu marido sempre sentiu em passar o natal no Brasil. Claro que tinha o fato de estar longe da família dele, mas a questão é que ele sempre comentava que achava o natal brasileiro um pouco superficial. Na última vez que passamos o natal lá eu percebi que realmente as festas de fim ano lá são mais centradas nos presentes e no Papai Noel, enquanto aqui o foco é outro. Em geral, os arubianos são muito religiosos e em particular na família do meu marido. A festa de natal sempre começa com alguma leitura da Bíblia e antes de comer a ceia é feita uma oração. Quase todas as músicas cantadas tem teor religioso e (imagino eu) que a simples menção do papai noel seria considerada falta de respeito

Estudos superiores II

No mapa do post anterior, é possível ver onde estão as universidades da Holanda. Existem 13 universidades e 22 hogescholen (não sei qual a tradução, faculdade não me parece ser suficiente para essa palavra) no país de quase 17 milhões de habitantes.

O meu marido uma vez me explicou que o princípio que rege a organização dos estudos é que um país não pode funcionar se todos os habitantes aspiram a ser médicos, engenheiros ou advogados. O país precisa de gente de todas as profissões, sendo que as mais básicas devem ser em maior número do que as que exigem muitos anos de estudo e dedicação. Até o número de vagas nas escolas superiores e universidades é avaliado de acordo com as necessidades do país. Por exemplo: é feito um cálculo de quantos médicos vão ser necessários daqui a X anos e então é estabelecido o número de vagas de medicina nas universidades. É importante ressaltar que as universidades não oferecem todos os cursos. Por exemplo, só existem duas universidades politécnicas: Delft e Eindhoven. Isso significa que todos os que querem estudar engenharia, física ou arquitetura vão ter que escolher entre essas duas.

Para que esse sistema funcione é preciso que não existam grandes discrepâncias salariais, senão todos iam querer as poucas profissões que pagam bem. E essa é uma grande diferença do mercado de trabalho holandês e brasileiro. Todas as profissões pagam o suficiente para alguém viver com dignidade. Esse é o princípio que rege o mercado de trabalho em Aruba também. Aqui, alguém que fica na ilha, estuda para ser tecnólogo em hospitalidade (existe esse termo? é para trabalhar em restaurantes, hotéis e cassinos) vai ter um mercado de trabalho muito bom e bons salários. Eu não sei o valor ao certo, mas sei que nunca vai ser menos que dois ou três mil por mês. Pode não parecer muito no Brasil, mas nos posts anteriores eu expliquei porque saúde e educação nunca vão ser uma preocupação. Salários de menos de mil florins não existem assim como não existem os salários altíssimos que existem no Brasil, de 20 mil reais para funcionários públicos, ou de 35 mil reais para diretores de empresas. Isso é sério: não existem salários assim. Podem existir pessoas que ganhem isso, mas que trabalhem por conta própria, como autônomos ou são donos de seu próprio negócio. Mas nem aqui nem na Holanda, existem salários desse valor.

A diferença que existe nos anos de estudo e tipos de diploma que cada um consegue é até onde ele pode chegar em sua carreira. Normalmente, os cargos pedem requisitos diferentes e na descrição de cada um é exigido um tipo de diploma específico. Por exemplo, eu me lembro que uma conhecida brasileira teve seus estudos convalidados e seu título universitário brasileiro foi considerado HBO, ou seja, um nível de Hogeschool, o segundo mais alto. Quando ela conseguiu emprego num hotel, o seu chefe lhe mostrou o organograma da empresa e disse: você vai poder crescer aqui na empresa e um dia chegar a ser gerente. Você nunca vai poder ser diretora, porque o seu estudo não é de nível universitário. Provavelmente, ela nunca conseguiria ser diretora de todas as formas, afinal, numa empresa existem um monte de funcionários e só um diretor. Mas no caso do mercado de trabalho arubiano e holandês, o diploma determina até onde você pode chegar.

E existem muitas pessoas que optam por não seguir o caminho dos estudos superiores ou universitários simplesmente porque não tem vontade de estudar mais anos ou por pura vocação.

Graças a esse tipo de mercado de trabalho, as profissões mais básicas não tem um estigma de inferior ou são desvalorizadas socialmente. Um jovem pode perfeitamente decidir que quer ser bombeiro ou cozinheiro sem que isso seja considerado um problema. Tenho um exemplo na família: eu tenho uma sobrinha que sempre quis ser policial. Eu me lembro que quando ela tinha 7 anos já dizia que quando crescesse queria ser policial. Todo mundo achava engraçado e bonitinho, mas 9 anos se passaram e ela não mudou de idéia. Ela sempre foi uma aluna brilhante, uma das melhores da classe e atualmente está no penúltimo ano do ensino médio de tipo mais alto: VWO. Como ela tem potencial para ser mais do que policial de rua, ela vai seguir um tipo de estudo na Holanda que possibilite que ela vá até o topo da escala, que seria a superintendente de polícia de toda a ilha. Outro exemplo: um amigo de meu marido, estudou com ele o VWO e poderia ter ido à universidade. Mas seu sonho era ser taxista e quando ele terminou o ensino médio, resolveu conseguir a licença para dirigir táxi. Ele conseguiu bastante dinheiro com o táxi e resolveu abrir um negócio de aluguel de carros, junto com a esposa. Ele continua dirigindo táxi, que é o que gosta de fazer e sua família tem um ótimo nível de vida: passam as férias em Miami, como bom arubiano e sempre tem carros novos.

Eu acho que a grande vantagem desse tipo de sociedade é que os jovens não são obrigados a se enquadrar no esquema de fazer universidade “para ser alguém na vida”. Eu vejo que muitos jovens no Brasil, acabam perdidos porque não se identificam com o caminho universitário. Eu acho uma pena que esses jovens não possam ter seus horizontes tão amplos como os daqui, que podem decidir ser taxistas ou policiais sem que isso seja motivo de escândalo na sociedade.

Estudos superiores I

Reforçando o que eu contei no meu post anterior sobre educação, os jovens que terminam o ensino médio podem continuar sua formação de 3 maneiras: EPI, que é o ensino profissionalizante intermediário, a Hogeschool, que é um curso superior e a Universiteit, que é a universidade. Só os dois últimos são considerados ensino superior. Acho que eu falei besteira quando disse que não existe equivalência no Brasil, porque me lembrei que existem lugares como a Fatec, em São Paulo, que formam tecnólogos. A Fatec é precisamente o que a EPI significa aqui em Aruba. O que não tem equivalência no Brasil é a distinção entre curso superior e curso universitário.

Seja qual for o caminho que o estudante queira seguir: tecnólogo, curso superior ou universitário, ele recebe bolsas de estudo (se quiser). Na verdade, essas bolsas são 70% empréstimo e 30% bolsas de estudo. Eu não sei os percentuais certos, mas a maioria dos arubianos ficam aqui mesmo e fazem curso de tecnólogos. Esses cursos oferecem uma ótima saída para o mercado de trabalho local. Fiquei sabendo recentemente que apenas 5% das pessoas que estão no mercado de trabalho arubiano atualmente tem curso superior ou universitário, mas como esse foi o caminho que meu marido seguiu e também praticamente todos os amigos dele, é esse que eu conheço melhor.

Os estudantes que conseguem seus diplomas de HAVO ou VWO podem escolher fazer um curso superior ou universitário. Como na ilha as opções são limitadas nesse aspecto, a grande maioria vai para a Holanda, uma minoria vai para os EUA e alguns gatos pingados vão para outros lugares, normalmente na América do Sul ou Central. O governo holandês oferece esse pacote de bolsa + empréstimo para todos os cidadãos holandeses do reino que queiram continuar seus estudos após o ensino médio. As faculdades e universidades são públicas, no mesmo esquema que as escolas: não gratuitas, paga-se uma anuidade. Não sei se os preços mudadaram muito, mas em 2004, quando eu morava em Delft, o preço da anuidade oscilava em torno de uns 500 euros. A bolsa oferecida pelo governo holandês é suficiente para que o estudante seja independente de seus pais e viva sozinho. E é isso que todos fazem, eu nunca conheci um holandês que não tenha saído de casa ao terminar o ensino médio. Entre as vantagens que os estudantes da Holanda tem está uma carteirinha de desconto que permite que os estudantes usem de graça todos os tipos de transporte público disponíveis: trem, ônibus e bondes de 2ª f. a 6ª f. Os estudantes normalmente alugam quartos em casas ou apartamentos de estudantes. Se você já viu uma república no Brasil não tem a menor idéia do que eu estou falando. Primeiro, porque esses quartos também são oferecidos pelo governo, então o estudante paga o seu aluguel para o órgão da prefeitura responsável (no aluguel normalmente está incluído água, luz e gás) e segundo porque os quartos são enormes, variam entre 18 a 35m2. Alguns quartos tem uma pequena cozinha, outros tem banheiro e todos tem espaço para uma divisão para uma pequena sala de estar para receber os amigos. Não sei o valor atual da bolsa, mas anos atrás era de algo mais que mil euros por mês. Como os preços no Brasil atualmente estão tão absurdos, pode ser que alguém ache que é pouco, mas na Holanda é perfeitamente possível para uma pessoa se manter (e até economizar) com esse dinheiro, principalmente porque os quartos de estudantes são baratos, em 2004 não chegavam a 300 euros por mês. O governo de Aruba oferece uma bolsa extra de algo mais que 200 euros por mês, para que os estudantes possam vir pelo menos uma vez ao ano de férias. Essa ajuda é justificada, já que normalmente a época que os estudantes querem vir é alta temporada e nem sempre eles conseguem economizar (ou os pais podem ajudar) para comprar a passagem. Meu sogro mesmo estudou na Holanda numa época em que essa ajuda não existia e ele ficou seis anos sem vir para as férias.

Os estudantes arubianos contam com uma estrutura de apoio lá, com mentores e estudantes arubianos veteranos que lhes facilitam muito a vida. Quando eles chegam, eles passam por uma semana de integração, quando são ajudados a tratar de coisas práticas como: fazer a matrícula, pedir a conta em banco, fazer os trâmites da bolsa, etc. Os estudantes sempre vão para a Holanda sozinhos, a mãe ou o pai não acompanham. Isso faz parte da tradição e do ritual de tornar-se adultos. Durante toda a vida estudantil, o estudante pode recorrer ao mentor como apoio.

A parte da ajuda financeira que é um empréstimo começa a ser cobrada normalmente dois anos depois de que o estudante termina os seus estudos e esse início pode ser adiado caso ele esteja desempregado. O valor a ser pago ao mês é calculado de acordo com o salário do estudante e a cada ano, é preciso mandar a declaração do imposto de renda para que eles calculem quanto vai ser pago mensalmente. Meu marido, como todos os que seguiram esse caminho, tem uma dívida lá na Holanda e outra aqui em Aruba, mas os juros são baixos e a mensalidade não é um exagero.

Quando um estudante decide fazer seus estudos em outro país ele pode pedir o valor total da bolsa de uma vez e começa a pagar a dívida, da mesma maneira que os que foram para a Holanda, após terminar seus estudos. É assim que fazem os que vão estudar nos EUA, por exemplo, mas como o preço das universidades lá é absurdamente mais alto, normalmente eles contam com a ajuda dos pais ou são obrigados a pedir outro empréstimo para financiar seus estudos.

Qualquer filho de família arubiana tem como meta seguir esse caminho: independizar-se aos 18 anos e assumir uma dívida depois de formado. Isso faz parte do processo de tonar-se adulto e não costuma causar pena ou comoção em ninguém. Eu digo isso porque os únicos casos que eu conheço de estudantes que terminam o ensino médio e continuam dependendo dos pais são filhos de brasileiros, então acho que existe uma grande diferença de mentalidade aí. Alguns pais brasileiros que eu conheço (especialmente quando ambos são brasileiros) morrem de pena dos filhos terem que arcar com uma dívida e preferem eles mesmos se sacrificarem e bancar todos os custos dos filhos na Holanda (ou em Aruba para os que continuam os estudos aqui). Eu, particularmente, adoro o esquema holandês. Eu acho que viver sozinho e com o próprio dinheiro é um aprendizado de valor incalculável.

Saúde

Em Aruba a saúde pública é não universal e não gratuita. Como assim? Ela não é universal porque não atende a todos, somente os residentes legais aqui. Se alguém estiver vivendo ilegalmente ou se um turista estiver de férias e precisar de atendimento médico, eles vão ter que pagar pelo atendimento. Não é gratuita porque é descontado um valor do salário de todos os trabalhadores. O percentual é aproximadamente 11% do valor bruto que a pessoa recebe. Ou seja, além de pagar os impostos normais e previdência social, desconta-se um valor à parte que se destina à saúde. As pessoas que não trabalham não precisam pagar nada.
O sistema de saúde funciona através de um seguro saúde que se chama AZW, que é uma abreviação para seguro médico geral. Todos os cidadãos tem que ter a sua carteirinha de AZW e quando você se inscreve no sistema, você tem assignados um médico de família, um dentista e uma farmácia. Você pode escolher todos os três e no caso dos dois primeiros, existem cotas e pode ser que algum deles não aceite mais pacientes.
O médico de família é a sua porta de entrada para qualquer problema de saúde que você tiver. Eles atendem também as crianças (ao contrário da Espanha, onde a criança tem um pediatra assignado). A princípio, eles atendem qualquer problema de saúde e encaminham para um especialista quando eles julgam necessário. Eles fazem o exame preventivo de câncer nas mulheres.
Aqui, como na Espanha e na Holanda, a rapidez com que eles encaminham para um especialista depende dele mesmo. Eu não tenho queixas da nossa médica de família em relação a isso: todas as vezes que precisamos, ela encaminhou para um especialista imediatamente. Foi ela quem me encaminhou para uma fisioterapeuta para cuidar da dor nas costas que eu tenho desde que nasceu minha filha. A minha médica de família da Espanha disse que eu teria que fazer tudo particular porque o sistema público de lá prioriza reabilitação de acidentados, enquanto aqui eu tive 3 meses de tratamento fisioterápico cobertos pelo sistema.
Todos os remédios receitados por um médico são totalmente gratuitos: é só levar à farmácia assignada, entregar a receita e pegar os remédios. Se o remédio não estiver coberto pela AZW, o médico pode propor um parecido ou perguntar para o paciente se ele prefere pagar pelo remédio. São raros os remédios que não são cobertos. Na farmácia, estão à vista das pessoas aqueles remédios que não necessitam receita. A variedade destes é pequena, sendo basicamente paracetamol, alguns xaropes, sabonetes e xampus. Se não estiver à vista, o remédio só é vendido com receita médica, nem adianta discutir. Por isso, se você toma medicação regularmente, é melhor trazer já na bagagem, porque aqui não funciona o jeitinho brasileiro para remédios.
Eu não conheço nenhum médico que não esteja dentro do sistema de saúde. Que eu saiba todos os especialistas atendem consulta particular também, mas acho que eles não sobreviveriam se tivessem  que viver disso. Os motivos que levam uma pessoa a pedir uma consulta particular são basicamente: imigrantes ilegais que não tem direito a saúde pública e o motivo da consulta ser estético. Por exemplo, eu paguei para ir ao dermatologista para cuidar de umas manchas no meu rosto, porque a minha médica de família não pode me encaminhar para um especialista para isso. O preço de uma consulta particular aqui varia entre 35 a 40 reais. Imagino que o espanto de um brasileiro lendo isso deve ser o mesmo que eu tive quando soube que minha mãe paga 500 reais para consultar uma especialista em São Paulo.
Em Aruba só existe um hospital e não existem todas as especialidades médicas (lembrando que a ilha tem pouco mais de cem mil habitantes). No caso de não existirem especialistas, o sistema de saúde oferece (e paga) para que alguns especialistas venham periodicamente à ilha. Por exemplo, minha afilhada tem um sopro no coração e ela é atendida por um cardiopediatra de Curaçao que vem a cada seis semanas para cá. Aqui não se fazem transplantes e os pacientes que necessitam são enviados para a Holanda, utilizando um acordo que o hospital tem com as companhias aéreas. Meu cunhado, que é diretor do departamento de nefrologia do hospital, vive com um bip o tempo todo. Quando aparece um rim disponível na Holanda, ele busca lugar no primeiro avião disponível e arruma para que o paciente viaje. A passagem e a estadia do paciente e de seu acompanhante na Holanda são totalmente pagos pelo sistema de saúde. No caso de pacientes de cardiologia e neonatologia, o acordo é com um hospital da Colômbia. Os pacientes são enviados para lá para operações como ponte de safena e sempre com direito a acompanhante. O hospital não tem um setor de prematuros, então se uma mulher entra em trabalho de parto antes das 37 semanas, é levada com ambulância aérea para que o bebê nasça na Colômbia e fique lá enquanto o bebê cresce e fica mais forte.
Em relação ao dentista, o maior benefício é para menores de idade. Eles têm direito a uma limpeza anual dos 4 até os 18 anos. As restaurações deles também são cobertas (os pais pagam uma taxa de uns doze reais por restauração) Se a criança for levada regularmente (a limpeza tem que ser feita em menos de um ano) e a criança precisar de aparelho, o governo paga a metade. A partir dos 6 anos, é feita uma aplicação de flúor anual. Qualquer tipo de cirurgia é coberto. Para os adultos, praticamente só é coberta a extração, cirurgias e próteses (nesse caso, o governo paga a metade). Em geral, o custo de dentista aqui também é menor que no Brasil. Ano passado, eu fui a uma consulta e paguei uns 80 reais pela consulta e a limpeza.
Em resumo, eu acho o sistema de saúde muito bom. Claro que tem as deficiências que um sistema de saúde público sempre vai ter: as consultas com especialistas e cirurgias demoram, por exemplo, e no hospital, se você quiser um quarto individual, tem que pagar extra. Mas, de uma maneira geral, o gasto com saúde nunca vai ser um problema na vida de alguém que mora aqui. Praticamente todos os problemas de saúde estão incluídos no seguro do governo e se não houver tratamento aqui, eles pagam para que você e um acompanhante viajem para outro país para obter esse tratamento.

Vôo livre

O Ministro de Turismo de Aruba anunciou hoje que, depois de um ano de negociação, o departamento de turismo de Aruba e o aeroporto Reina Beatrix chegaram a um acordo com a Gol e com a Avianca para disponibilizarem vôos diretos de Guarulhos para Aruba.

A Gol, responsável por 60% dos turistas brasileiros que vem a Aruba, anunciou que o vôo direto será aos sábados. Ela vai manter o vôo das quintas-feiras, via Caracas. Espero que eles criem vergonha e abram uma loja aqui para poder vender passagens para os locais ou até mesmo atender os brasileiros que queiram remarcar uma passagem, por exemplo.

A Avianca anunciou que os vôos diretos começarão em junho de 2012 com um Airbus 319 configurado para 132 passageiros enquanto a Gol vai operar com um Boeing 737-800 com capacidade para 170 passageiros.

Ao parecer, tanto os comerciantes locais quanto as agências de turismo brasileiras estão bastante entusiasmados com o acordo. Em 2009, Aruba recebeu 10.594 brasileiros e em 2010 esse número dobrou, com a chegada de 20.237 passageiros. Os primeiros sete meses de 2011 mostraram um aumento de 19,7% em relação ao ano anterior.

Esse ministro já fez tanto pelo turismo de Aruba que eu fico imaginando que se tivéssemos alguém com metade da disposição no Brasil, muita coisa melhoraria no turismo brasileiro.

Educação

A estrutura da educação aqui em Aruba segue o modelo holandês. A educação é praticamente gratuita, só é necessário pagar uma anuidade, que vai subindo de acordo com a escolaridade. Essa anuidade é bem pouquinha, para se ter uma idéia: para o que seria equivalente ao ensino médio do Brasil paga-se uns 250 reais e para a minha filha que está na pré-escola, paga-se uns 120 reais. Lembre-se: por ano.

Isso só é possível devido ao altíssimo investimento do governo em educação. Os arubianos tem orgulho de dizer que o percentual do orçamento do governo que vai para a educação é um dos mais altos de toda a América Latina.

Uma grande diferença em relação ao ensino holandês é que aqui a educação não é obrigatória. Embora eu mesma não conheça nenhuma criança que não esteja sendo escolarizada, eu sei que elas existem. Às vezes, eu faço compras na parte da manhã e sempre me estranha ver alguma criança acompanhando a mãe nesse horário. As escolas sempre são na parte da manhã, assim como na Espanha e na Holanda. Eu não conheço nenhum país, além do Brasil, que tenha escolas funcionando à tarde. Existe um projeto para tornar a educação obrigatória, a partir dos 5 anos, como na Holanda. Ao parecer, a partir do próximo ano.

O governo subsidia quase todas as escolas particulares, o que faz com que o ensino privado custe o mesmo que o público. Uma das razões é que não existem escolas públicas em número suficiente para atender a demanda, então acaba sendo mais prático subsidiar o ensimo privado que construir novas escolas. O subsídio não vai para a escola, mas sim para uma fundação que coordena as escolas. Existe a fundação que cuida das escolas católicas (que são em maior número que todas as outras escolas juntas), a fundação de escolas protestantes/cristãs, a fundação de escolas adventistas e a fundação de escolas evangélicas. Eu só sei de duas escolas que não recebem subsídio e que são privadas mesmo, do tipo que conhecemos no Brasil: uma é a International School of Aruba, que não recebe subsídio porque o modelo de educação é o americano; a outra é a De Schakel, não sei porque ela não recebe subsídio.

Não existem creches públicas. A educação pública e o ensino oficial começam com o kleuterschool, que é a pré-escola para crianças de 4 e 5 anos. As aulas começam em agosto e no 1º ano do kleuter entram as crianças que fizeram 4 anos em outubro do ano anterior até as que fazem 4 anos em setembro do ano corrente. Como a minha filha é de 20 de setembro, ela está fadada a ser para sempre a caçulinha da turma. O objetivo do kleuter é o desenvolvimento físico/corporal, dos sentidos, da música, a autonomia, dos idiomas e o desenvolvimento psicosocial. Não se alfabetiza, o que foi um dos motivos determinantes para que nós quiséssemos vir para Aruba. Na Espanha, a alfabetização começa aos 3 anos e muitas colégios já tem uma grade curricular de fazer inveja a um estudante de medicina. Conheci um menino de 3 anos que ficou de recuperação de inglês. Eu tinha horror a que acabassem com a primeira infância da minha filha e como ela ainda não está procurando emprego, preferimos buscar outro modelo de educação. A Espanha está no último lugar em desempenho acadêmico de toda a Europa e a explicação mais plausível é que quando as crianças chegam aos 10 anos, já sofrem os efeitos da fatiga.

O equivalente ao ensino fundamental do Brasil é a basis school, que começa aos 6 anos e termina aos 12. Existem quatro tipos de basis school: as normais, as para surdos-mudos, as para crianças com dificuldade de aprendizado e as para crianças com extrema dificuldade de aprendizado, que incluem os diversos casos de deficiência mental. Existe também uma escola especial para filhos de estrangeiros que não falem papiamento ou holandês. Eles passam um ano estudando nessa escola para que possam, ao final, incorporar-se a uma escola normal. Uma das coisas que eu gosto é que no 3º ano da basis, as aulas de educação física são aulas de natação. Isso significa que todos sabem nadar, o que faz com que eu, uma adulta que não nada, seja um bicho raro para eles.

Ao final da basis, com base em toda a história escolar da criança, elas são divididas em três tipos diferentes de ensino secundário: MAVO, HAVO e VWO e é nesse ponto que o ensino é totalmente diferente do modelo brasileiro. Como esse tema é mais complexo, vou deixar para detalhá-lo em outro post.