Reforçando o que eu contei no meu post anterior sobre educação, os jovens que terminam o ensino médio podem continuar sua formação de 3 maneiras: EPI, que é o ensino profissionalizante intermediário, a Hogeschool, que é um curso superior e a Universiteit, que é a universidade. Só os dois últimos são considerados ensino superior. Acho que eu falei besteira quando disse que não existe equivalência no Brasil, porque me lembrei que existem lugares como a Fatec, em São Paulo, que formam tecnólogos. A Fatec é precisamente o que a EPI significa aqui em Aruba. O que não tem equivalência no Brasil é a distinção entre curso superior e curso universitário.
Seja qual for o caminho que o estudante queira seguir: tecnólogo, curso superior ou universitário, ele recebe bolsas de estudo (se quiser). Na verdade, essas bolsas são 70% empréstimo e 30% bolsas de estudo. Eu não sei os percentuais certos, mas a maioria dos arubianos ficam aqui mesmo e fazem curso de tecnólogos. Esses cursos oferecem uma ótima saída para o mercado de trabalho local. Fiquei sabendo recentemente que apenas 5% das pessoas que estão no mercado de trabalho arubiano atualmente tem curso superior ou universitário, mas como esse foi o caminho que meu marido seguiu e também praticamente todos os amigos dele, é esse que eu conheço melhor.
Os estudantes que conseguem seus diplomas de HAVO ou VWO podem escolher fazer um curso superior ou universitário. Como na ilha as opções são limitadas nesse aspecto, a grande maioria vai para a Holanda, uma minoria vai para os EUA e alguns gatos pingados vão para outros lugares, normalmente na América do Sul ou Central. O governo holandês oferece esse pacote de bolsa + empréstimo para todos os cidadãos holandeses do reino que queiram continuar seus estudos após o ensino médio. As faculdades e universidades são públicas, no mesmo esquema que as escolas: não gratuitas, paga-se uma anuidade. Não sei se os preços mudadaram muito, mas em 2004, quando eu morava em Delft, o preço da anuidade oscilava em torno de uns 500 euros. A bolsa oferecida pelo governo holandês é suficiente para que o estudante seja independente de seus pais e viva sozinho. E é isso que todos fazem, eu nunca conheci um holandês que não tenha saído de casa ao terminar o ensino médio. Entre as vantagens que os estudantes da Holanda tem está uma carteirinha de desconto que permite que os estudantes usem de graça todos os tipos de transporte público disponíveis: trem, ônibus e bondes de 2ª f. a 6ª f. Os estudantes normalmente alugam quartos em casas ou apartamentos de estudantes. Se você já viu uma república no Brasil não tem a menor idéia do que eu estou falando. Primeiro, porque esses quartos também são oferecidos pelo governo, então o estudante paga o seu aluguel para o órgão da prefeitura responsável (no aluguel normalmente está incluído água, luz e gás) e segundo porque os quartos são enormes, variam entre 18 a 35m2. Alguns quartos tem uma pequena cozinha, outros tem banheiro e todos tem espaço para uma divisão para uma pequena sala de estar para receber os amigos. Não sei o valor atual da bolsa, mas anos atrás era de algo mais que mil euros por mês. Como os preços no Brasil atualmente estão tão absurdos, pode ser que alguém ache que é pouco, mas na Holanda é perfeitamente possível para uma pessoa se manter (e até economizar) com esse dinheiro, principalmente porque os quartos de estudantes são baratos, em 2004 não chegavam a 300 euros por mês. O governo de Aruba oferece uma bolsa extra de algo mais que 200 euros por mês, para que os estudantes possam vir pelo menos uma vez ao ano de férias. Essa ajuda é justificada, já que normalmente a época que os estudantes querem vir é alta temporada e nem sempre eles conseguem economizar (ou os pais podem ajudar) para comprar a passagem. Meu sogro mesmo estudou na Holanda numa época em que essa ajuda não existia e ele ficou seis anos sem vir para as férias.
Os estudantes arubianos contam com uma estrutura de apoio lá, com mentores e estudantes arubianos veteranos que lhes facilitam muito a vida. Quando eles chegam, eles passam por uma semana de integração, quando são ajudados a tratar de coisas práticas como: fazer a matrícula, pedir a conta em banco, fazer os trâmites da bolsa, etc. Os estudantes sempre vão para a Holanda sozinhos, a mãe ou o pai não acompanham. Isso faz parte da tradição e do ritual de tornar-se adultos. Durante toda a vida estudantil, o estudante pode recorrer ao mentor como apoio.
A parte da ajuda financeira que é um empréstimo começa a ser cobrada normalmente dois anos depois de que o estudante termina os seus estudos e esse início pode ser adiado caso ele esteja desempregado. O valor a ser pago ao mês é calculado de acordo com o salário do estudante e a cada ano, é preciso mandar a declaração do imposto de renda para que eles calculem quanto vai ser pago mensalmente. Meu marido, como todos os que seguiram esse caminho, tem uma dívida lá na Holanda e outra aqui em Aruba, mas os juros são baixos e a mensalidade não é um exagero.
Quando um estudante decide fazer seus estudos em outro país ele pode pedir o valor total da bolsa de uma vez e começa a pagar a dívida, da mesma maneira que os que foram para a Holanda, após terminar seus estudos. É assim que fazem os que vão estudar nos EUA, por exemplo, mas como o preço das universidades lá é absurdamente mais alto, normalmente eles contam com a ajuda dos pais ou são obrigados a pedir outro empréstimo para financiar seus estudos.
Qualquer filho de família arubiana tem como meta seguir esse caminho: independizar-se aos 18 anos e assumir uma dívida depois de formado. Isso faz parte do processo de tonar-se adulto e não costuma causar pena ou comoção em ninguém. Eu digo isso porque os únicos casos que eu conheço de estudantes que terminam o ensino médio e continuam dependendo dos pais são filhos de brasileiros, então acho que existe uma grande diferença de mentalidade aí. Alguns pais brasileiros que eu conheço (especialmente quando ambos são brasileiros) morrem de pena dos filhos terem que arcar com uma dívida e preferem eles mesmos se sacrificarem e bancar todos os custos dos filhos na Holanda (ou em Aruba para os que continuam os estudos aqui). Eu, particularmente, adoro o esquema holandês. Eu acho que viver sozinho e com o próprio dinheiro é um aprendizado de valor incalculável.
OI Bel, Moro no brasil e estou querendo morar em aruba pra estudar .
meu pai mora em aruba ja tem 19 anos como que eu faço pra consegui permiso
pra trabalhar e estudar em aruba .
Oi Cassio, isso você precisa ver através dele, como fazer a reagrupação familiar. Os estudos aqui normalmente são em holandês, você precisa ter isso em consideração.
Abraço,
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Oi Bel! Eu e meu marido vamos pra Aruba em setembro e ontem ele me mandou o link do seu site. Desde então não paro de ler ele, estou viciada. É tudo o que eu estava procurando. Fiquei impressionada com a quantidade de informação que você nos disponibiliza, tudo sempre tão detalhado, muito obrigada! Esse post especificamente me tocou muito por ser um modelo de educação com o qual me identifico muito mais do que o praticado no Brasil. Confesso que muitas vezes eu nem penso em ter filhos por discordar muito da forma como eles são criados em nossa sociedade. Mas não vou entrar nesse mérito. Obrigada novamente. Compramos a passagem pra Aruba um tanto afobados, cheios de dúvidas, sem pesquisar muito do local. Mas quanto mais leio seu blog, mais segura fico sobre o quanto vamos amar passar as férias aí. Beijos!
Que legal, Monalisa! Um dos grandes motivos de nós termos vindos para Aruba foi o modelo de educação. Se eu morasse no Brasil, procuraria uma escola do tipo Waldorf para ela. 😉
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É curioso. O brasileiro não gosta de assumir dívida aos 18 anos para pagar o estudos universitários, mas acha aceitável assumir dívida para comprar o primeiro imóvel depois de se casar. Dívida por dívida, acho a opção holandesa/arubiana mais inteligente, pois aos 18 anos nossas despesas são menores, temos mais tempo para pagá-la e o crédito será usado para um objetivo que pagará dividendos futuros (mais estudos = perspectivas de emprego melhores = salários maiores). Já o imóvel onde se mora é algo que só dá despesas e a dívida é assumida num momento da vida no qual nossos gastos aumentam (e depois que os filhos nascem, aumentam ainda mais).
Então Flavio. Na verdade, a dívida só começa a ser paga dois anos depois do jovem se formar e se ele estiver empregado. Se ele não tiver trabalho, o início é adiado. 😉
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