Miss Simpatia

Muita gente que mora no Brasil pode não saber, mas dia 12 de setembro próximo, vai se realizar o concurso de Miss Universo, em São Paulo. A audiência aqui em Aruba vai estar próxima a 100%, como em todos os anos. Acho que muito se deve à proximidade com a Venezuela e o fato de que, por muitos anos, os canais venezuelanos eram uns dos poucos disponíveis na ilha, mas aqui, concurso de miss é coisa séria. O próprio ministro de turimo irá ao Brasil para apoiar a Miss Aruba e segundo se comenta, tentar trazer o concurso de 2013 para a ilha. Esse é o ápice de um conjunto de acontecimentos que começa exatamente um ano antes.

O concurso de miss Aruba não é um evento, mas uma temporada. A próxima temporada vai durar três meses e começará no dia 14 de setembro. Durante a temporada, as candidatas, cuja idade varia entre 17 e 23 anos, vão participar de workshops de passarela, etiqueta, moda, falar em público, maquiagem, estética e também de cuidados com o meio ambiente e responsabilidade social. Esses meses são importantes para que as candidatas se façam conhecidas e consigam patrocínio de negociantes locais para a final.

A final do concurso desperta grandes paixões e as candidatas normalmente tem patrocinadores, torcida organizada e uniformizada. Nas semanas anteriores ao concurso, é comum ver carros e estabelecimentos comerciais com adesivos e pôsteres das candidatas. O afã de vencer é tão grande, que a mãe de uma conhecida nossa vendeu a própria casa para bancar a candidatura da filha. A sua filha ganhou, então imagino que para a mãe, deve ter valido a pena.

A feliz ganhadora passa a ser uma celebridade local, e normalmente faz propagandas, participa de eventos dos patrocinadores, dá entrevistas, etc. À medida que se aproxima a data do concurso de Miss Universo, a ansiedade por notícias aumenta e desde que as candidatas chegaram ao Brasil, grande parte das notícias dos jornais locais são focadas nos passeios das candidatas. Foram noticiados absolutamente todos os passos das misses no Brasil: visita à Oscar Freire, ao Guarujá, ao Jockey Club, ao Museu do Futebol, a instituições de caridade, aulas de samba, etc.

E também qualquer crítica positiva à Miss Aruba foi divulgada com grande entusiasmo. O vestido de noite dela (que eu pensava que era uma surpresa do dia do concurso) foi bem avaliado pelo designer Nick Verreos (ex-project runway) do E Entertainment, que disse que era “safe and perfect”.  E o site mais conhecido especializado em misses, missosology.org, que elegeu as melhores vestidas (fashionists), deu o segundo lugar para a candidata local, depois da Miss França e antes da Miss Portugal.

Apesar de todo esse esforço, até hoje, nenhuma Miss Aruba ganhou o concurso, sendo que o melhor resultado foi um 2º lugar em 1996 e o título de Miss Simpatia em 2000. O curioso é que toda a empolgação vai se repetir em fevereiro, quando houver a eleição de Rainha do Carnaval, mas essa história fica para outra vez…

A cultura do carro

Em Aruba, o meio de locomoção é o carro. Apesar de fazer parte do reino holandês, aqui não existe o costume nem a infraestrutura para o uso da bicicleta. Quando, em meados dos anos cinquenta, a ilha passou por um desenvolvimento urbanístico, tudo foi planejado para o uso do automóvel, com ruas largas, muitos lugares para estacionar e ao mesmo tempo, poucas ou zero calçadas.
Os turistas que se movem pela parte dos hotéis e pelo centro, normalmente não notam, porque lá é uma das poucas áreas da ilha que existe calçada, mesmo que deficiente. Mas, nos bairros, só existe uma calçada meia-boca em alguns deles, mesmo assim, como a responsabilidade de fazer uma calçada na frente da sua casa é do próprio morador, muitos deles não fazem. Posso dar alguns exemplos da ausência de calçadas: eu moro a umas três quadras de um supermercado, mas é impossível chegar lá a pé, porque eu teria caminhar no meio da rua. Uma vez, meu marido foi comprar algo numa farmácia, mas chegando lá, a máquina de ler cartões estava estragada, então ele tinha que sacar dinheiro. Ele sabia que havia um caixa automático virando a esquina e resolveu ir a pé. Ele quase morreu atropelado porque teve ir para o meio da rua, era noite e os carros quase não o viam. Foi a última tentativa de fazer algo a pé.
Além disso, o transporte público é ruim e ineficiente. Isso é outra coisa que os turistas não costumam notar porque uma das poucas linhas de ônibus que existe é a que liga o setor de hotéis com o centro. Mas, no meu bairro, por exemplo, não existe nenhuma linha de ônibus que passe. A maioria dos poucos pontos de ônibus que existem não tem banco nem pérgola. Agora imaginem isso debaixo do sol inclemente.
Por isso ter carro aqui é uma necessidade. O índice de carros por pessoa é de 1 carro para cada 2, um índice bem mais alto que o americano, que também é uma cultura voltada para o uso individual de transporte e não coletivo.  Praticamente todos os carros tem câmbio automático e ar-condicionado. Inclusive para se tirar a carteira, a prova é feita num carro com câmbio automático. Isso significa que a maioria absoluta dos arubianos nunca aprende a dirigir num carro com câmbio manual em toda a sua vida. O ar-condicionado é um sine qua non, num lugar onde não existe inverno e a temperatura varia entre quente e insuportavelmente quente, como agora, no verão.
O excesso de carros cria muitos congestionamentos, principalmente no centro. Às vezes, você pode pensar que houve um acidente ou que o tráfico está fechado em alguma parte, mas não é nada disso. O único motivo é o excesso de carros, que a ilha não comporta. O que chega a ser irônico, porque numa ilha tão pequena e plana, a mobilidade não deveria ser um problema.
Aqui ninguém faz nada a pé e, em muitos casos nem poderia. Mas a ausência de calçadas fez as pessoas pensarem que em Aruba é impossível andar a pé por causa do clima. Dois anos atrás, meu marido (que é arquiteto e urbanista) fez uma palestra na universidade local falando das deficiências urbanísticas da ilha, entre as quais a ausência de calçadas e ciclovias. Umas quantas pessoas levantaram a mão dizendo que esse tipo de coisa era inviável aqui por causa do clima. Daí ele explicou que no Brasil, as pessoas caminhavam e praticavam esportes ao ar livre, mesmo no verão quando a temperatura chegava a mais 40oC, o que deixou muitos incrédulos, já aqui a temperatura não passa de 33oC ou 34oC. Por sorte, uma arubiana que estava na platéia, comentou que era verdade: ela tinha visitado uma amiga que morava em Santos, que com seus 72 anos caminhava no calçadão todos os dias e ia à padaria e fazia as compras a pé.
Essa foi a razão de termos mudado para cá, já que meu marido foi contratado pelo ministério de infraestrutura para trabalhar na melhora urbanística da ilha. Atualmente, ele está trabalhando num projeto que vai remodelar todo o litoral, de uma ponta à outra. Esse projeto vai incluir uma ciclovia, calçadão para caminhar, estacionamentos para carros e bicicletas, bancos, sombra, etc. Em outubro, a primeira parte do projeto vai ser inaugurada, num trecho que vai desde a rotatória da casa de cultura (que fica entre o aeroporto e o centro) e o parque onde fica o Renaissance. Para que todo projeto se complete, vão ser necessários mais anos, mas se tudo der certo, futuramente, tanto turistas quanto locais poderão desfrutar do litoral ao mesmo tempo que se exercitam, de maneira mais saudável e menos poluente. A idéia é extender as ciclovias para os bairros, para que o uso de bicicletas possa ter uma finalidade não apenas de lazer, mas de transporte.

A Casa

Uma característica de Aruba é que aqui se vive em casas. Existem pouquíssimos apartamentos, sendo que a maioria deles são habitação social, tipo BNH, Cohab, Singapura ou coisa que o valha. Mas a população, em geral, mora em casas.

Os terrenos costumam ser grandes e as casas normalmente são só de um piso, é difícil encontrar sobrados. Isso pouco a pouco está tornando inviável morar em casas porque já quase não há terrenos disponíveis na ilha.

Outra característica das casas é que não existe campainha. Sério, eu nunca vi em nenhuma casa. O que se faz normalmente é buzinar. Se não funcionar,  você espera que o cachorro da casa ou algum cachorro dos vizinhos comece a latir para alertar os donos da casa. Se nem isso funciona, apela-se para o celular. Ah, sim, não se bate palmas! Depois de quase dez anos morando fora do Brasil, eu finalmente descobri que só lá existe esse costume, aparentemente bizarro aos olhos de um estrangeiro, de bater palmas para chamar o dono da casa. Eu me lembro que meu marido quase surtou uma vez que estávamos no portão de uma conhecida que não vinha nunca e eu comecei a bater palmas. Ele falou: você está louca? Pra quem você está aplaudindo?! :p

Apesar de ter nascido e crescido em casas e estar acostumada a cidades onde a maioria das pessoas vive em casas, quando eu vim pela primeira vez eu vi que alguma coisa era muito diferente do Brasil porque eu não podia imaginar aquelas casas em nenhuma cidade brasileira. Depois é que eu notei uma grande diferença: é que aqui dificilmente existe grama nos jardins. Em seu lugar, as pessoas costumam plantar árvores, muitas vezes até criar uma verdadeira selva na frente das casas. Uma vista comum de uma rua pode ser assim:

vista de uma rua

E são muitas as casas que ficam completamente escondidas pelas árvores:

vista de uma casa

Algumas casas tem jardins com visual mais clean, mas seria muito estranho encontrar uma casa brasileira com coqueiros desse tamanho na frente, né?

casa com coqueiros

Uma vez eu perguntei para o meu marido porque as pessoas não poem grama nos seus jardins. E ele me disse que é muito caro porque todos os meses tem que pagar alguém para cortar. Grama é coisa de gente rica. Dois tios dele que são considerados os ricos da família tem grama no jardim. Daí eu pensei: mas como pode ser tão caro assim se meus pais tem em casa e um monte de gente no Brasil também? Perguntei para a minha mãe a cada quanto tempo alguém tem que vir para cortar. Ela disse que nos meses de chuva pode ser uma vez ao mês, mas nos meses de seca pode demorar de três a quatro meses. Daí eu cheguei à conclusão de que a falta de costume de plantar grama é mais por falta de conhecimento aliada à preguiça que por falta de dinheiro.

E como é o quintal? Bem, atrás é onde fica normalmente as varandas, de preferência bem grandes para receber toda a família nas muitas festas de arromba, além de um espaço para as crianças correrem.

A segurança, de modo geral, é bem melhor que no Brasil. Eu ainda não vi aqueles muros de três metros com cerca eletrificada, no estilo prisão de alta segurança. O muro da minha casa mesmo é baixo, acho que tem um metro e meio e tem casas que nem muro tem. Existem bairros que são mais inseguros e propensos a furtos. Mas é bom deixar bem claro: normalmente são furtos, sem a presença dos moradores e sem armas de fogo. Uma amiga brasileira que mora num desses bairros já foi roubada uma vez. Ela chegou em casa do supermercado à noite e estava cansada, deixou para guardar a comida no dia seguinte. Quando ela acordou, a cozinha estava sem janela e o ladrão levou toda a compra do dia anterior. E também alguma comida que estava na geladeira. A tv, o vídeo, aparelho de som e outros elétrodomésticos continuaram lá. Pelo jeito nem passou pela cabeça dele fazer a família que estava dormindo de refém para pedir dinheiro, jóias ou coisas de mais valor. Um ladrão um pouco mais profissional roubou a máquina de lavar, que estava do lado de fora, da casa de um parente. Mas aqueles roubos com a família trancada no banheiro, ameaçada de morte, que nem dão mais notícia de jornal no Brasil, isso eu nunca ouvi falar. E bate na madeira três vezes…

Língua

idioma

Todos os arubianos são poliglotas e falam, pelo menos, 4 idiomas: papiamento, holandês, inglês e espanhol. Quando eu digo todos, eu quero dizer todos mesmo, incluindo a avó de 92 anos do meu marido, e os meus sobrinhos desde a mais tenra idade. Se você vai a uma repartição pública, ao hospital, ou mesmo a uma loja de celulares, antes mesmo de pegar a sua senha, o computador pergunta em qual dos quatro idiomas você quer ser atendido.

O idioma local é o papiamento, uma língua que se parece ao espanhol e com palavras do holandês. Eu ainda vou fazer um post específico sobre papiamento, mas agora o importante é entender como toda uma população chega a saber quatro línguas fluentemente.

Papiamento é a língua se fala em casa, nas festas, no dia a dia, nos jornais e nos dois canais de tv locais. É nessa língua que os bebês aprendem a falar suas primeiras palavras e é a língua usada nas creches e escolinhas, a não ser que os pais ponham o filho numa escola específica que fale outro idioma. Existem algumas creches e escolinhas em holandês e que eu saiba existe uma em inglês.

Mas Aruba faz parte do reino holandês e tem essa língua como idioma oficial. Isso significa que todo o ensino é em holandês e da primeira série até a universidade, todas as matérias são dadas em holandês. Até algum tempo atrás, o papiamento era proibido, coisas de colonialismo europeu. Depois deixou de ser proibido, mas não ensinado nas escolas. Faz menos de dez anos que o papiamento é ensinado desde a primeira série até o final do ensino secundário, como língua estrangeira.

Então uma criança típica vai aprender papiamento em casa, com sua família e se for à creche, essa vai ser a língua falada lá também. A escolinha para as crianças de 2 e 3 anos chama-se peuterschool e numa escola comum, o máximo de contato com o holandês vai ser através de algumas musiquinhas. A escola das crianças de 4 e 5 anos, é a pré-escola, chamada kleuterschool e é então que se começa a ensinar holandês para as crianças arubianas. Com jogos e brincadeiras, elas vão aprendendo o idioma, preparando-se para a grande mudança. Com seis anos, eles iniciam a primeira série e a partir daí, tudo vai ser em holandês, a não ser durante aulas de língua estrangeira.

E como entram o inglês e o espanhol nessa história? Aruba vive de turismo e até pouco tempo atrás os percentuais eram uns 80% de americanos e canadenses e o resto de latino-americanos e holandeses. Como a maioria das pessoas trabalha no setor turístico, falar inglês é essencial. Some-se isso ao fato de que o ensino de idiomas na escola é excelente, tanto que existem poucas escolas de idiomas aqui. Eu mesma nunca conheci um arubiano que tenha estudado numa escola de idiomas ou com aulas particulares.

Um outro fator são os meios de comunicação. Como a ilha só tem três canais de tv, o resto todo vem de fora. Aruba recebe praticamente todos os canais da tv aberta americana e a maioria dos canais por cabo. E esses canais são recebidos diretamente, o que nos permite assistir os noticiários e programas sem nenhum atraso. O que significa que aqui se assiste ABC, CBS etc e não canais como Sony e Warner que compram programas desses canais. Isso é possível porque não existe legenda nem dublagem. Com acesso à tv em inglês desde que nascem, as crianças já se acostumam com o idioma bem cedo e a maioria tem contato com inglês mais cedo e em mais profundidade que o próprio holandês. Os cinemas também passam filmes sem legenda, inclusive filmes infantis.

Em relação ao espanhol, o número de imigrantes de outros países, principalmente da Venezuela e Colômbia, é grande. Então é bem comum ouvir espanhol no dia a dia. A geração do meu marido é uma geração que cresceu com mais contato com espanhol do que a atual. Por que os canais americanos chegaram faz uns 20 anos e antes disso, todos os canais eram da Venezuela e do México. Então existe uma diferença de gerações em relação ao domínio de idioma. Os adolescentes e crianças falam mais inglês e menos espanhol que os adultos.

Outra característica arubiana é a multi-culturalidade: numa ilha tão pequena convivem pessoas de quase cem nacionalidades, por isso não é difícil encontrar pessoas que falem além das quatro línguas locais mais umas quantas. E esse vai ser o futuro da nossa filhota do alto dos seus 3 anos já fala português, papiamento e inglês como se fossem suas línguas maternas e pouco a pouco está assimilando espanhol e holandês.

Festa de arromba

Quando se vive numa ilha de 110.000 habitantes,  as opções de lazer são limitadas. Não tão limitadas quanto morar numa cidade deste tamanho, porque Aruba é um destino turístico, então tem muitas coisas: parques aquáticos, praias, cinemas, restaurantes, passeios de jipe, barco, quadriciclo, submarino, etc. Mesmo assim, os passeios normalmente são bem caros e não dá pra ficar pagando mais de $50 por pessoa cada fim de semana.

Some-se a isso o fato de que muita gente se conhece. Sabe aquele lance de cidade pequena em que todo mundo se conhece? Daí imagina que a cidade pequena é uma ilha. Comparando com a minha família no Brasil: eu tenho parentes espalhados por muitíssimas cidades e estados do Brasil. Sempre tem alguém que foi estudar em algum lugar, ou conseguiu emprego longe ou casou. Minha mãe tinha quinze irmãos, meu pai tem sete e nenhum tio ou tia morava na nossa cidade. Já aqui em Aruba, a família costuma sempre estar perto, o que significa que a família é grande. Meu marido tem catorze tios e tias que moram aqui e todos têm uma prole signficativa. E a maioria das famílias tipicamente arubianas é assim.

Então, a solução para as poucas opções de lazer acessíveis e manter o contato com tanta gente é fazer festa. Aqui se comemora tudo: aniversários, bodas de casamento, batismos, comunhões, etc. Quando eu digo que se comemora, eu não estou falando de uma festinha em casa. Porque mesmo que a festa seja em casa, não tem como existir uma festa íntima. Em primeiro lugar porque comemorar aniversários é uma algo esperado. Não tem aquela de perguntar: você vai fazer alguma coisa? Se alguém faz aniversário, todo mundo que conhece a pessoa e lembra da data pode passar para dar os parabéns. Então se você fizer aniversário, trata de comprar bebidas e providenciar uns petiscos porque o convite é desnecessário, a galera vai aparecer com certeza. No aniversário do meu marido tivemos mais de setenta pessoas em casa e isso que muita gente não veio. E não existe festa surpresa? Poucas, normalmente para ser surpresa tem que ser um dia antes.

Batismos e comunhões sempre são comemorados com uma festa gigantesca, do tipo que é preciso alugar um salão, decorá-lo e imprimir convites. Não sei se existe esse costume em algum lugar do Brasil, mas eu noto que aqui e na Espanha esses dois eventos são considerados merecedores de pompa e circunstância.

Quanto às festas de criança, é quase igual ao Brasil, com temas e brincadeiras. Acho que a única diferença é que aqui sempre tem a piñata e não sei se em algum lugar do Brasil existe esse costume.

Também merecedores de uma festa grande são os aniversários de adultos que chegam a uma idade redonda, tipo 20, 30, 40, etc. e os aniversários de casamento a cada cinco anos. Para esses dois casos, a festa também costuma ser comemorada num salão ou restaurante e são enviados convites. Que eu me lembre, no Brasil somente as bodas de prata ou de ouro são comemoradas com festa, quando são, porque a maioria dos casais que eu conheço não dá muita bola para isso.

Bolo de boda

Isso significa que a nossa vida social é agitadíssima. Às vezes temos que esperar vários fins de semana para poder ir ao cinema porque praticamente todos os sábados e domingos ou nós temos uma festa ou nossos sogros (e babás oficiais) têm.

E deixa eu ir terminando o post porque preciso sair para comprar um presente de comunhão… 😉

Quando o carteiro chegou e o meu nome gritou com uma carta na mão

caixa de correio

Tem algumas coisas que funcionam no Brasil e que muita gente não dá valor. Uma delas é são os correios. A minha experiência com o correio brasileiro sempre foi excelente. Já em relação aos outros países que morei, dá pra fazer um ranking.

O correio holandês é impecável. Tudo o que você manda ou recebe vem a tempo, ninguém abre nada nunca. Minha mãe mandava sedex do Brasil e demorava quatro dias para chegar em Delft. Isso porque o pacote saía de Campo Grande. Imagino que se saísse de São Paulo, um dia seria economizado.

Então, voltamos a morar na Espanha. O mesmo sedex passou a demorar duas semanas para chegar. O sistema de correios do Brasil permite que você saiba exatamente onde está o seu pacote através de um sistema de rastreamento: a caixa tem um código de barras que é lido em cada lugar que ele chega. E nós comprovávamos que dois dias depois de enviado lá em CGR, o pacote chegava em Madrid. O que ele ficava fazendo lá nos doze dias seguintes até ser entregue para mim, eu nunca fui capaz de entender. Fora os extravios. Cartas simples enviadas da Holanda demoravam dez dias para chegar, quando chegavam. Uma vez enviamos um pacote com presentinhos para um bebê de uma amiga que nasceu na Holanda e o pacote sumiu. Como não tínhamos feito seguro (nunca imaginamos que precisássemos fazer um seguro para um sedex), só ouvimos umas desculpas e nada foi feito. Também sumiram ou foram devolvidos alguns pacotes enviados para nós, sem nenhuma explicação plausível. Quando a filhota nasceu, mandamos cartões de nascimento (nem sei se existe esse nome em português, mas é uma tradição holandesa – geboortekarten). Já quem recebeu e quem não recebeu e quando recebeu foi uma loteria. Nossos amigos holandeses receberam os cartões um dia depois de postado. Começamos a receber os telefonemas de parabéns no dia seguinte, incrédulos. Os cartões enviados para a Espanha chegaram uma semana depois.

E os de Aruba demoraram meses. Sim, meses, porque os correios daqui batem todos os recordes de ineficiência que existem. Hoje eu recebi uma carta enviada no Brasil no dia 10 de março, parece piada. E as cartas enviadas para qualquer parte do mundo também demoram, em média, dois meses para chegar. Todos os pacotes enviados por sedex pela minha mãe chegam abertos. Até agora nunca sumiram com nada do que tinha dentro, mas eles sempre abrem para dar uma conferida.

Mas, curiosamente, as contas de água, luz, telefone e a publicidade comercial sempre chegam a tempo. Outro fato incompreensível para mim, é o fato dos correios entrarem de férias coletivas no Natal e Ano-Novo. Sabe aquela época quando mais usam os serviços de correio? Mesmo que o hábito de mandar cartões de Natal tenha praticamente desaparecido, o de mandar presentinhos para quem mora longe não. E ainda mais num país em que muitos jovens estão fazendo faculdade fora

As Quatro Estações

jardim da casa da minha sogra

Antes de morar aqui, eu tinha a idéia errônea de que Aruba não tinha estações: eu pensava que sempre era o mesmo de calor e de úmido. Essa idéia foi em parte influenciada pelas muitas vezes que vi o outdoor perto da Arubahuis em Haia, que diz Nu op Aruba: 27oC (Agora em Aruba: 27oC), tentando animar os infelizes transeuntes holandeses a visitar a ilha, fugindo da chuva e do vento eternos. Mas, sem dúvida, estamos na primavera. A ilha está toda florida e até a velha alergia a pólen está presente.

É claro que o clima aqui não tem estações tão definidas quanto na Europa, mas a diferença entre conhecer a ilha em julho ou janeiro é grande. Eu diria que as maiores diferenças são: as temperaturas mínimas e o vento. Em janeiro, no inverno tropical, as temperaturas máximas variam entre 29oC e 31oC, enquanto as mínimas rondam os 21oC, o que significa que à noite e de manhã tem um frescor delicioso, acompanhado por uma eterna brisa.

Já o verão…Bom, para quem vem de férias e vai ficar na praia o tempo todo, imagino que não faça muita diferença, mas morar aqui entre julho e meados de setembro é jogo duro. As máximas são de uns 33oC, mas a mínima passa a ser 27oC, o que significa que o tempo nunca refresca. Além disso, o vento desaparece, mas a umidade não. Então a vida passa a ser mais ou menos assim:

– você toma banho e ao se secar, já está suando;
– os batons se derretem na bolsa e se você tenta usar maquiagem, arrisca-se a ficar parecida com um palhaço assustador com a maquiagem escorrendo;
– você resolve ir à piscina e a água está morna;
– você entra no mar e a água está morna;
– você toma banho e a água varia entre quente insuportável e morna;
– você põe uma camiseta de manga curta na sua filha e troca logo a seguir por uma de alcinha, por medo dela suar muito;
– você sua, sua e sua;
– você troca de roupa e toma banho várias vezes ao dia, mas só é capaz de refrescar mesmo se houver ar condicionado.

Eu ainda não tenho uma idéia clara de como é o outono aqui, porque no ano passado tivemos O Dilúvio, considerado fora do normal e refrescou tanto que deixamos de ligar o ar condicionado. Dormir só com o ventilador, mesmo com a porta do quarto fechada, já era refrescante o suficiente. Outra coisa que fez diferença no último outono foi a invasão de mosquitos. Com a chuva e toda a água disponível, eles se reproduziram como loucos. Todas as casas ficaram infestadas e passar loção antimosquito no corpo várias vezes ao dia tornou-se um ritual obrigatório. Os mosquitos estiveram presentes na nossa vida por um longo tempo e só agora, depois alguns meses de seca é que eles deram uma trégua.

Por isso, tenha em mente essas particularidades climáticas se estiver planejando uma visita à ilha. :)

O Que Será

Meus amigos sabem que não sou muito de escrever mails. Quando eu me animo, sempre são mails coletivos não muito frequentes. E ao mesmo tempo, eu tenho vontade de contar muita coisa e acho que preciso fazê-lo enquanto ainda tenho olhos curiosos, que não se acostumaram à nova cultura.

Eu, hoje, não poderia escrever um blog sobre a Espanha porque morei tanto tempo lá que me acostumei com coisas que parecem diferentes para turistas e recém-chegados.

Apesar de ser má correspondente, meus amigos que não desistiram de mim sempre perguntam coisas como: Como é a vida aí em Aruba? Você mora na praia? Como é o custo de vida? A idéia é responder esses e outros tipos de perguntas, além de dar dicas para turistas.

A minha visão de Aruba, que pretendo expor aqui, é totalmente pessoal e sujeita a mudanças, à medida que o tempo passe. Os leitores que tiverem dúvidas, podem perguntar e serão recompensados com posts explicativos.

Bon bini!