As eleições e o sistema eleitoral de Aruba

Carreata do partido avp no último domingo

Hoje é o grande dia das eleições em Aruba. Aqui, as eleições não são feriado, mas o trabalhador tem o direito de se ausentar por 4h para votar, então na prática, hoje tudo fecha ao meio-dia. Se algum leitor veio de passeio nos últimos cinco meses, com certeza deve ter notado as bandeiras e os adesivos por todas as partes. A primeira pergunta que os brasileiros fazem quando ouvem falar de eleições é: eleição de quê? Bom, daí o jeito é explicar que numa ilha de apenas duas cidades e pouco mais de cem mil habitantes, não tem como existir eleições municipais, estaduais ou federais. Aqui são “as” eleições, onde se elegem os membros do parlamento, os ministros e o ministro-presidente (Aruba, ao ser um estado independente, mas associado à Holanda, não tem um presidente, mas sim, um ministro-presidente).

Uma das coisas mais curiosas do sistema eleitoral de Aruba é que os partidos têm cor. Sim, cada partido é identificado por uma cor. Isso eu descobri em 2004, quando estávamos planejando o nosso casamento. Nós morávamos na Holanda, mas nos casamos em Aruba, que eu só conhecia por uma visita de duas semanas em 2003. Quando estávamos decidindo os detalhes, resolvemos fazer o casamento usando a cor amarela, por ser a cor em comum das bandeiras do Brasil e de Aruba. Alguns dias depois de comentarmos isso com a família, meu marido me disse que seus pais tinham receio de que o nosso casamento fosse visto como declaração de apoio a um partido (coisa que eles nunca fizeram) e eu fiquei totalmente surpresa. Ahn, como assim? Daí eu fiquei sabendo que em Aruba esse lance da associação da cor com um partido é muito forte. Gente que apoia um partido é capaz de passar o resto da vida sem nunca usar a cor do outro nem para roupas, nem para carro ou para a casa. No final, nós decidimos não mudar nada e fazer a decoração toda em amarelo e branco, mas que teve gente incomodada, isso teve!

Daí vocês podem ficar pensando: epa, quantos partidos têm? Senão, a escolha de cores pode ficar bastante limitada. Bom, existem oito partidos, mas, na prática, existem dois que se revezam no poder: um que tem a cor verde e outro que tem a cor amarela. Então embora existam os partidos com cor vermelha, azul, laranja e branca, a rivalidade grande é entre as cores verde e amarela.

 

Nessa época do ano, dá pra encontrar até doce de leite ninho nas cores que cada um desejar

O sistema eleitoral de Aruba é bem diferente do sistema brasileiro, por isso vou tentar explicar resumidamente. O parlamento tem 21 lugares e essas vagas são repartidas segundo o número de votos de cada partido, em 1º lugar e segundo o número de votos do candidato, individualmente, em 2º lugar. Cada partido tem que estabelecer uma lista, que pode conter até 29 candidatos, sendo que o candidato que tem o número 1 é o candidato a ministro-presidente daquele partido. Os outros candidatos da lista são candidatos a parlamentares ou ministros, no caso que aquele partido ganhe as eleições. Então, ao contrário do Brasil e de muitos outros países, a nomeação de ministros não pode vir “de surpresa”, com um nome que ninguém ouviu falar. Obrigatoriamente tem que ser uma pessoa que passou pelo crivo do partido, primeiramente e pelo crivo popular das eleições. A ordem em que os candidatos estão na lista é muito importante porque ela é que determina o corte, ou seja, segundo o número de vagas que o partido consegue, a ordem da lista determina quem entra no parlamento.

Lista do partido verde

Durante muitos anos, os partidos pequenos serviram principalmente para as coligações que definiam quem ia governar a ilha, então como um conseguia uma vaga, outro conseguia outra vaga e um terceiro conseguia umas duas, eles juntos acabavam tendo uma influência porque podiam coligar com um partido ou com outro para dar a maioria e decidir. Mas, nas últimas eleições, o partido verde ganhou de lavada, em grande parte, graças à péssima administração que o partido amarelo estava fazendo. Desta vez não foi necessária uma coligação, porque o partido verde conseguiu 12 das 21 vagas do parlamento e pode governar sem ter que fazer acordos nem prometer cargos para outros partidos.

O voto em Aruba não é obrigatório, mas a participação é altíssima, em torno de 90%. Só para efeito de comparação, nos EUA, onde o voto também não é obrigatório, a participação gira em torno dos 40%.

Para a distribuição de vagas, primeiro contam-se os votos válidos e divide-se por 21. O ratio determina quantos votos um partido precisa para ter uma vaga, então se um partido consegue 5 vagas por exemplo, os cinco primeiros da lista entram para o parlamento. E se um candidato consegue muitos votos, mas está baixo na lista do partido? Existe uma exceção para a regra: qualquer candidato que consiga 1500 votos automaticamente consegue uma vaga para o parlamento, independente do seu lugar na lista.

E como funciona a questão dos ministros? Como eu comentei antes, os ministros precisam estar na lista. Então partido que ganha acaba conseguindo por mais gente de sua lista no governo. Por exemplo, nas eleições passadas, o partido verde conseguiu 12 vagas, mas o número 1 se tornou ministro-presidente e seis outros se tornaram ministros, o que significa que até o candidato que estava no número 19 conseguiu entrar no parlamento.

A contagem manual dos votos (aqui não existe urna eletrônica) começa no sábado de manhã e o resultado final dos votos só vai sair no dia 2 de outubro. Outra coisa que eu acho curiosíssima é que o governo eleito assume imediatamente, no mesmo dia, não existe transição.

Como alguns leitores do meu blog sabem, meu marido trabalha no ministério de infraestrutura, então nós não estamos indiferentes a essa eleição, aqui em casa somos verdes até o último fio de cabelo! :p E para completar a lista de particularidades das eleições de Aruba, uma similaridade. Aqui como aí, tem lei seca que começa um dia antes e termina um dia depois das eleições. Até lá, seja num bar, restaurante ou supermercado, a venda de bebidas alcoólicas só é feita com uma comprovação de que se é turista. Então se você estiver em Aruba, saia com o seu passaporte que comprova a data de entrada!

 

A questão do abastecimento

O lado b de se morar numa ilha paradisíaca do Caribe é a questão do abastecimento. Coisas que você não dá valor quando se mora num país farto em produtos frescos, como o Brasil, aqui são apreciadas. Então ir ao supermercado e encontrar tudo o que você tinha em mente é um prazer inenarrável. :) Isso porque algumas vezes tem algum contêiner que está atrasado, por motivos diversos.

Aruba é abastecida por contêineres que tem 3 origens distintas: Estados Unidos, Holanda e Venezuela-Colômbia-países latino-americanos em geral. Então às vezes, principalmente na época da temporada de furacões, como agora, acontece de um contêiner não chegar na data prevista. Atualmente, o que está atrasado é o que vem da Holanda e a ilha não tem batatas. Para um turista pode parecer surreal, mas não tem batata em nenhum supermercado da ilha desde a 6a feira passada e segundo dizem o contêiner só vai chegar amanhã, o que significa que entre descarregar e distribuir, o produto tão esperado só vai reaparecer 6a feira.  Enquanto isso, essa que vos fala, vai ficando com lombrigas de uma boa salada de batatas para comer com a maionese caseira que eu fiz esse fim-de-semana.

No meu caso, eu acabo sofrendo mais do que a média com o atraso dos contêineres, porque, por uma questão de hábitos alimentares, aqui em casa, quase tudo o que consumimos é fresco. Não consumo leite de caixinha, por exemplo. Nem frutas e verduras congeladas. Não compro molho de tomate, eu mesma faço. Não uso tempero completo, compro vários tipos de ervas frescas, como manjericão, orégano, louro, além do indispensável cheiro verde. Não compro cubinhos de caldos de carne, frango ou peixe. Todos os meus caldos são caseiros e ficam congelados sem nenhum conservante nem glutamato monossódico. Isso faz com que eu faça no mínimo duas visitas ao supermercado por semana, mas pelo menos minhas idas são rápidas, porque eu passo quase batido por todas as prateleiras de produtos alimentícios e vou direto para a geladeira. E são exatamente os produtos frescos os mais afetados pelos atrasos de algum contêiner. Porque os supermercados sempre tem bons estoques de enlatados, arroz, farinhas e produtos de limpeza, mas ter um estoque de verduras e outros produtos frescos não é possível.

Então da próxima vez que vocês ficarem com aquela invejinha da minha proximidade com as praias paradisíacas, consolem-se pensando que morar aqui também tem seus perrengues. 😉

Nosso roteiro de 4 dias em São Paulo com criança

Todos os anos nós passamos alguns dias em São Paulo antes de voltar para Aruba. Como eu morei lá quase 11 anos e tenho muitos amigos e família, sempre faço questão de passar uns dias. Mas o desejo de aproveitar ao máximo as férias com a meus pais sempre acabava apertando essa estadia para três dias e acabávamos com a língua de fora de tantos lugares para visitar e tanta gente para tentar rever. Resultado: meu marido criou uma birra com São Paulo, que para ele era sinônimo de correria e estresse. Daí esse ano, resolvi ficar 5 dias para desfazer essa impressão e ao mesmo tempo, procurar alguns passeios legais para a filhota aproveitar.

Chegamos num sábado à noite, então o nosso primeiro passeio foi no domingo. Eu tive a brilhante ideia de ir ao zoológico. Acontece que num domingo de férias escolares e com ótimo tempo, cara de primavera, milhares de pessoas tiveram a mesma ideia. Já foi super difícil chegar lá, porque ficamos presos no tráfico da Miguel Estéfano. Não dava para ir para a frente, nem para trás nem para os lados. Quando finalmente chegamos, vimos umas mil pessoas se aglomerando nas bilheterias. Estávamos num grupo de cinco adultos e duas crianças e resolvemos visitar o Jardim Botânico, que fica do lado e a gente nem sabia que existia.

Diana no castelinho do jardim botânico

Diana no castelinho do Jardim Botânico

A aprovação foi unânime, inclusive dos pequenos visitantes de 2 e de 5 anos. Como tínhamos ficado tanto tempo parados no trânsito, começamos a visita pelo restaurante. É um restaurante com comida por quilo honesta que agradou aos diversos paladares. Depois, resolvemos caminhar pelo Jardim Botânico seguindo uma trilha que as crianças descobriram. É uma trilha de terra, que sobe um morrinho do lado esquerdo do parque. Depois, vimos pelo mapa que acabamos percorrendo o parque inteiro e podemos assegurar que até uma criança de 2 anos pode fazer tranquilamente. No final da trilha tinha um castelinho, que era uma casa em miniatura. A filhota subiu e desceu mais de dez vezes, assim que foi uma atração aprovada. Outra atração à parte são os inúmeros macacos bugios que ficam macaqueando e pulando de galho em galho, para o deleite de grandes e pequenos

Depois da trilha, passeamos pelos jardins e desfrutamos o lugar. A entrada vale muito à pena: são R$ 5 por pessoa, sendo que crianças até 4 anos não pagam. E tem um estacionamento em frente que custa R$ 8.

O segundo passeio paulistano foi o Ibirapuera. Sabendo das dimensões do parque, resolvemos nos concentrar nos parquinhos. Fomos primeiro ao parquinho menor, que fica logo depois da Oca. E aproveitamos para ver por lá a exposição do Luís Gonzaga. Para orgulho do pai arquiteto, a Diana se divertiu muitíssimo e adorou as janelas redondas e o formato singular do prédio. Depois fomos ao parquinho “pequeno”. Bom, chamar este parquinho de pequeno só serve para um efeito de comparação com o outro. O parque ocupa uma área bem grande e tem brinquedos bem diversos, como uma tirolesa, um circuito de barras de braquiagem, um carro igual ao dos Flintstones, além dos tradicionais balanços e gangorras.

Circuito de barras de braquiagem para crianças pequenas

Circuito de barras de braquiagem para crianças pequenas

Depois da filhota se divertir o quanto queria no parquinho menor, resolvemos procurar o maior. Para chegar nesse, o melhor é ir perguntando mesmo porque não tem uma rota clara e definida. Só chegar lá é incrível: não dá para chamar de “parquinho” porque o que existe é uma área do tamanho de um campo de futebol de brinquedos. São muitos, são variados e estão espalhados numa área bem grande. Definitivamente é um lugar que vale a pena levar sanduíches para fazer piquenique e passar o dia. Como esse não foi o nosso caso, tivemos que ir embora antes da filhota conseguir o seu objetivo de experimentar todos os brinquedos, já que bateu a fome. Enfim, damos uma nota 10 ao Ibirapuera. Não só tem uma quantidade de brinquedos grande e variada para a garotada, com também nos brinda com algumas coisas inusitadas como estas:

Árvores surrealistas

Estas árvores me lembraram um desenho de Escher

 

Túnel de eucalipto

O eucalipto que virou brinquedo

O nosso terceiro passeio paulistano foi o Aquário. Eu confesso que nem sabia da existência dele, que foi um achado da minha irmã, mas como eu visitei dois oceanários quando morava na Espanha, fui achando que ia ser algo no estilo. A entrada é salgada, são R$ 40 para adultos e R$ 30 para crianças de 3 a 12 anos. Eu até entendo o preço porque imagino que a manutenção deva ser bem cara, mas eu tinha aquela expectativa de passar pelo menos umas 4h visitando e tive a surpresa de que em uma horinha, sem correr nem nada, já tínhamos visto tudo. O lado bom foi que a filhota adorou, claro. Então para as crianças a diversão é certa, afinal eles podem ver jacarés, cobras diversas, tubarões, peixes super exóticos e até o Nemo e a Dory. Ao final, também tem uma parte com esculturas de diferentes tipos de dinossauro, que tivemos que passar correndo porque a Diana ficou com medo e finaliza com uma sala cheia de morcegos. Não entendi a relação com o aquário, mas foi super interessante, eu nunca tinha visto morcegos tão grandes e tão de perto.

Sala dos pinguins

Os pinguins que não eram de Madagascar

Diana e o jacaré

Parece que vai sair de lá de dentro!

Ao final, a minha avaliação é: se for para crianças, é uma atração legal. Mas não conte com preencher o dia com esse passeio, porque é bem curto. E vale mais à pena para quem nunca conheceu um aquário grande, porque a minha expectativa era essa:

Faunia - Madrid

Aquário de Faunia – Madrid

O nosso último dia de passeio em São Paulo foi também o mais surpreendente. Fomos conhecer o museu de ciências Catavento. Para começar, adoramos o preço. A entrada para adultos custa R$ 6 e para crianças de 4 a 12 custa R$ 3. Apesar do site e dos próprios funcionários não recomendarem as três primeiras seções para crianças menores de 7 anos, nós resolvemos teimar e a filhota adorou. Claro que ela não entendeu as explicações das formações das galáxias nem da teoria da evolução, mas o museu é extremamente visual e interativo, então a diversão foi garantida. O que realmente resolvemos pular foi a seção Sociedade, porque nanografia e química para 5 anos realmente é demais. O mais interessante para crianças de todas as idades, sem dúvida, é a seção Engenho, onde estão os experimentos. Dá para ter os cabelos arrepiados pela eletricidade, dá para fazer uma bolha ao redor de si, cruzar uma ponte formada por partes soltas, ver uma máquina de raios e tantos outros experimentos que fica difícil enumerar. Enfim, foi tão divertido que quando saímos, a filhota disse que tinha adorado o “parquinho”. 😀

Diana fazendo uma bolha ao redor de si

Dentro da bolha

Ponte romana