A Casa

Uma característica de Aruba é que aqui se vive em casas. Existem pouquíssimos apartamentos, sendo que a maioria deles são habitação social, tipo BNH, Cohab, Singapura ou coisa que o valha. Mas a população, em geral, mora em casas.

Os terrenos costumam ser grandes e as casas normalmente são só de um piso, é difícil encontrar sobrados. Isso pouco a pouco está tornando inviável morar em casas porque já quase não há terrenos disponíveis na ilha.

Outra característica das casas é que não existe campainha. Sério, eu nunca vi em nenhuma casa. O que se faz normalmente é buzinar. Se não funcionar,  você espera que o cachorro da casa ou algum cachorro dos vizinhos comece a latir para alertar os donos da casa. Se nem isso funciona, apela-se para o celular. Ah, sim, não se bate palmas! Depois de quase dez anos morando fora do Brasil, eu finalmente descobri que só lá existe esse costume, aparentemente bizarro aos olhos de um estrangeiro, de bater palmas para chamar o dono da casa. Eu me lembro que meu marido quase surtou uma vez que estávamos no portão de uma conhecida que não vinha nunca e eu comecei a bater palmas. Ele falou: você está louca? Pra quem você está aplaudindo?! :p

Apesar de ter nascido e crescido em casas e estar acostumada a cidades onde a maioria das pessoas vive em casas, quando eu vim pela primeira vez eu vi que alguma coisa era muito diferente do Brasil porque eu não podia imaginar aquelas casas em nenhuma cidade brasileira. Depois é que eu notei uma grande diferença: é que aqui dificilmente existe grama nos jardins. Em seu lugar, as pessoas costumam plantar árvores, muitas vezes até criar uma verdadeira selva na frente das casas. Uma vista comum de uma rua pode ser assim:

vista de uma rua

E são muitas as casas que ficam completamente escondidas pelas árvores:

vista de uma casa

Algumas casas tem jardins com visual mais clean, mas seria muito estranho encontrar uma casa brasileira com coqueiros desse tamanho na frente, né?

casa com coqueiros

Uma vez eu perguntei para o meu marido porque as pessoas não poem grama nos seus jardins. E ele me disse que é muito caro porque todos os meses tem que pagar alguém para cortar. Grama é coisa de gente rica. Dois tios dele que são considerados os ricos da família tem grama no jardim. Daí eu pensei: mas como pode ser tão caro assim se meus pais tem em casa e um monte de gente no Brasil também? Perguntei para a minha mãe a cada quanto tempo alguém tem que vir para cortar. Ela disse que nos meses de chuva pode ser uma vez ao mês, mas nos meses de seca pode demorar de três a quatro meses. Daí eu cheguei à conclusão de que a falta de costume de plantar grama é mais por falta de conhecimento aliada à preguiça que por falta de dinheiro.

E como é o quintal? Bem, atrás é onde fica normalmente as varandas, de preferência bem grandes para receber toda a família nas muitas festas de arromba, além de um espaço para as crianças correrem.

A segurança, de modo geral, é bem melhor que no Brasil. Eu ainda não vi aqueles muros de três metros com cerca eletrificada, no estilo prisão de alta segurança. O muro da minha casa mesmo é baixo, acho que tem um metro e meio e tem casas que nem muro tem. Existem bairros que são mais inseguros e propensos a furtos. Mas é bom deixar bem claro: normalmente são furtos, sem a presença dos moradores e sem armas de fogo. Uma amiga brasileira que mora num desses bairros já foi roubada uma vez. Ela chegou em casa do supermercado à noite e estava cansada, deixou para guardar a comida no dia seguinte. Quando ela acordou, a cozinha estava sem janela e o ladrão levou toda a compra do dia anterior. E também alguma comida que estava na geladeira. A tv, o vídeo, aparelho de som e outros elétrodomésticos continuaram lá. Pelo jeito nem passou pela cabeça dele fazer a família que estava dormindo de refém para pedir dinheiro, jóias ou coisas de mais valor. Um ladrão um pouco mais profissional roubou a máquina de lavar, que estava do lado de fora, da casa de um parente. Mas aqueles roubos com a família trancada no banheiro, ameaçada de morte, que nem dão mais notícia de jornal no Brasil, isso eu nunca ouvi falar. E bate na madeira três vezes…

Festa de arromba

Quando se vive numa ilha de 110.000 habitantes,  as opções de lazer são limitadas. Não tão limitadas quanto morar numa cidade deste tamanho, porque Aruba é um destino turístico, então tem muitas coisas: parques aquáticos, praias, cinemas, restaurantes, passeios de jipe, barco, quadriciclo, submarino, etc. Mesmo assim, os passeios normalmente são bem caros e não dá pra ficar pagando mais de $50 por pessoa cada fim de semana.

Some-se a isso o fato de que muita gente se conhece. Sabe aquele lance de cidade pequena em que todo mundo se conhece? Daí imagina que a cidade pequena é uma ilha. Comparando com a minha família no Brasil: eu tenho parentes espalhados por muitíssimas cidades e estados do Brasil. Sempre tem alguém que foi estudar em algum lugar, ou conseguiu emprego longe ou casou. Minha mãe tinha quinze irmãos, meu pai tem sete e nenhum tio ou tia morava na nossa cidade. Já aqui em Aruba, a família costuma sempre estar perto, o que significa que a família é grande. Meu marido tem catorze tios e tias que moram aqui e todos têm uma prole signficativa. E a maioria das famílias tipicamente arubianas é assim.

Então, a solução para as poucas opções de lazer acessíveis e manter o contato com tanta gente é fazer festa. Aqui se comemora tudo: aniversários, bodas de casamento, batismos, comunhões, etc. Quando eu digo que se comemora, eu não estou falando de uma festinha em casa. Porque mesmo que a festa seja em casa, não tem como existir uma festa íntima. Em primeiro lugar porque comemorar aniversários é uma algo esperado. Não tem aquela de perguntar: você vai fazer alguma coisa? Se alguém faz aniversário, todo mundo que conhece a pessoa e lembra da data pode passar para dar os parabéns. Então se você fizer aniversário, trata de comprar bebidas e providenciar uns petiscos porque o convite é desnecessário, a galera vai aparecer com certeza. No aniversário do meu marido tivemos mais de setenta pessoas em casa e isso que muita gente não veio. E não existe festa surpresa? Poucas, normalmente para ser surpresa tem que ser um dia antes.

Batismos e comunhões sempre são comemorados com uma festa gigantesca, do tipo que é preciso alugar um salão, decorá-lo e imprimir convites. Não sei se existe esse costume em algum lugar do Brasil, mas eu noto que aqui e na Espanha esses dois eventos são considerados merecedores de pompa e circunstância.

Quanto às festas de criança, é quase igual ao Brasil, com temas e brincadeiras. Acho que a única diferença é que aqui sempre tem a piñata e não sei se em algum lugar do Brasil existe esse costume.

Também merecedores de uma festa grande são os aniversários de adultos que chegam a uma idade redonda, tipo 20, 30, 40, etc. e os aniversários de casamento a cada cinco anos. Para esses dois casos, a festa também costuma ser comemorada num salão ou restaurante e são enviados convites. Que eu me lembre, no Brasil somente as bodas de prata ou de ouro são comemoradas com festa, quando são, porque a maioria dos casais que eu conheço não dá muita bola para isso.

Bolo de boda

Isso significa que a nossa vida social é agitadíssima. Às vezes temos que esperar vários fins de semana para poder ir ao cinema porque praticamente todos os sábados e domingos ou nós temos uma festa ou nossos sogros (e babás oficiais) têm.

E deixa eu ir terminando o post porque preciso sair para comprar um presente de comunhão… 😉