Atualizado em outubro de 2017
Eu vou tentar dar uma resposta geral para uma pergunta frequente aqui no blog e no meu email: como eu faço para morar e trabalhar em Aruba?
Então vamos lá: é difícil, muito difícil. A não ser que você se case com um arubiano, conseguir o visto de residência é mais difícil que na maioria dos países da Europa ou da América do Norte. A justificativa é simples: Aruba é uma ilha pequena, mede apenas 33 km de extensão por 9 km de largura na sua parte mais larga. E nesse pequeno espaço moram cem mil pessoas. Além disso, a população flutuante é maior ainda que o número de pessoas que moram aqui. Isso significa que em janeiro, por exemplo, na altíssima temporada, a ilha chega a receber quase 200.000 turistas, ou seja, nesse pequeno espaço chegam a conviver quase 300.000 pessoas. Então, além da política de imigração ser restritiva, não existe uma perspectiva de que mude para que fique mais “fácil” imigrar. Vou tentar explicar como funciona em diferentes casos.
No meu caso, por casamento com arubano, é assim: de preferência, você tem que se casar no civil aqui, porque é um papel a menos para legalizar e traduzir. Com a certidão de casamento em mãos, você tem que juntar uma porrada de papéis do seu país de origem, como certidão de nascimento, atestado de estar quites com o imposto de renda, certidão de antecedentes penais, fazer exame de chapa de pulmão, resultado de teste de HIV negativo, entre muitas outras coisas. São 25 itens no total e todos os documentos brasileiros tem que apostila de Haia e ter uma tradução jurada para o holandês. Daí você consegue uma espécie de visto permanente vinculado ao seu marido. Se acaba o casamento, acaba o visto. Esse é o jeito fácil.
O segundo caso, e mais difícil, é conseguir um visto de trabalho e residência. Para que se consiga um, obrigatoriamente uma empresa precisa fazer uma oferta de trabalho antes que você deixe o país, no caso, o Brasil. Porque quando você chegar aqui, vai ter que apresentar também toda a papelada anterior. Mas o problema é que a empresa consiga fazer uma oferta de trabalho para você. Para que ela possa fazer isso, ela tem que provar que em Aruba não existe ninguém com essa qualificação. Ela precisa anunciar a vaga em jornais e/ou agências de emprego e mostrar que ninguém atendia àquelas qualificações. E isso não só é difícil, como custa dinheiro. A renovação do visto é anual e pedem toda uma papelada tanto para o empregador quanto para o empregado.
Daí vem a pergunta: e trabalhar ilegal? Possível é, mas é muito difícil. Eu acho que o principal problema é que se você está ilegal, não tem acesso ao sistema de saúde que, como eu expliquei antes, é único por aqui. E se você tiver um acidente, por exemplo? Você vai ter que ir ao único hospital da ilha e pagar pelo atendimento. Mas esse é o menor dos problemas. O grande problema é que se algum enfermeiro, médico ou funcionário do hospital não achar legal um imigrante ilegal estar morando aqui, ele pode te denunciar para a polícia e você pode ser deportado. Então não tem ilegais? Tem sim, mas normalmente são colombianos ou venezuelanos, que pela proximidade do próprio país, acabam se arriscando.
Um exemplo de como é complicado ser ilegal é o tempo médio de residência dos brasileiros que moram aqui. Eu diria que a média é de 30 anos. São brasileiros que vieram numa época em que as portas estavam abertas, a burocracia era bem menor e dava para se arriscar. Essa galera já legalizou sua situação há muito tempo. Eu não conheço nenhum brasileiro que esteja residindo ilegalmente em Aruba, bem ao contrário da Espanha, onde eu conhecia vários.
Outra possibilidade de morar em Aruba é conseguindo o visto de residência, mas não de trabalho. Isso é possível ao se comprar algumas semanas de timeshare ou um imóvel na ilha. É assim que muitos americanos acabam morando aqui, normalmente aposentados fugindo do frio.
E a última possibilidade é abrir um negócio. Só que, apenas é permitido abrir negócios na ilha se pelo menos um dos donos for arubiano. Isso significa que obrigatoriamente você vai ter que ter um sócio local. Essa regra vale para todo e qualquer tipo de negócio, até o Marriott e o MacDonald’s tiveram que conseguir um sócio daqui para abrir suas portas.
Outros esclarecimentos que costumam povoar os mails que eu recebo: ter passaporte europeu ou greencard americano não facilita em absolutamente nada o processo de visto de trabalho ou residência. O processo é igual para todos, exceto para os de passaporte holandês, obviamente. Eu, por exemplo, fiz o meu processo de pedido de visto com meu passaporte espanhol, mas simplesmente pela facilidade em relação à documentação. Quando eu me mudei para cá, o Brasil ainda não assinava a convenção de Haia para a legalização de documentos, sempre tinha aquele pesadelo de reconhecer firmas, legalizar no consulado e fazer tradução juramentada. Como tanto Aruba quanto a Espanha são assinantes do convênio, eu só precisei ter meus documentos espanhóis com a apostila de Haia e já está valendo.
Esclarecimento final: eu não sei como está o mercado de trabalho para nenhuma profissão, pessoal. Sério. A minha recomendação para quem quer procurar trabalho em Aruba: venham como turistas e procurem vocês mesmos. Como a ilha é pequena, qualquer que seja a sua área de trabalho, não vai ser difícil saber se existe demanda ou não. 😉