Sabe um choque cultural que eu nunca ouvi nenhum expatriado falar? É a questão dos costumes em relação à morte. Em Aruba a questão do velório e enterro é tão diferente do Brasil que não consigo deixar de comentar. Em outubro eu completei dez anos fora do Brasil e nove anos junto com meu marido. E eu posso dizer com bastante segurança que em todo esse tempo não houve uma única vez que, ao ouvir falar de uma notícia de morte/velório/enterro, ele não expressou espanto com a rapidez que esse ciclo se completa no Brasil.
Ele (e todos os outros estrangeiros que já conheci) fica absolutamente chocado ao ouvir que existem pessoas que são enterradas no mesmo dia que morreram e até já me perguntou se no Brasil alguém já ouviu falar de catalepsia. Eu já respondi que sim, mas aparentemente ninguém dá muita bola para isso ou prefere acreditar que é algo que só acontece com os mortos dos outros.
Nos três países que já morei: Espanha, Holanda e Aruba, o processo acontece mais ou menos assim: o enterro acontece entre 4 a 7 dias da morte e o velório acontece neste período. O corpo normalmente fica na geladeira da funerária e a família pode optar por condolências com o corpo presente ou não. O mais comum é que a família vele o corpo a sós e as condolências sejam recebidas numa sala da funerária ou em casa. O lugar de receber as condolências e o horário são publicados no jornal. Aliás, a questão do anúncio no jornal é muito curiosa aqui em Aruba. Além da família anunciar, também as empresas/instituições que tinham alguma relação com o morto ou com sua família o fazem. Por exemplo, saem muitos anúncios assim: estamos consternados em anunciar o falecimento de fulano de tal, (avô, pai, irmão, marido, primo, cunhado, sogro, tio) da nossa funcionária fulana de tal. Isso faz com que cada morto tenha vários anúncios e também que os jornais tenham várias páginas de obituário, mesmo com poucas pessoas falecidas. Eu já cheguei a pensar se as empresas tem uma verba especial para estes anúncios.
Talvez muitos brasileiros pensem que não existe nenhum motivo para esperar para enterrar, principalmente quando a questão da catalepsia pode ser descartada (num acidente, por exemplo). Mas outro motivo importante é que sempre se espera pela chegada de parentes para que eles também possam passar pelo processo de se despedir da pessoa querida. Aqui ainda existe o fato de que, na grande maioria dos casos, existem parentes que vivem fora, normalmente na Holanda, que tem que fazer seus arranjos para poder vir ao funeral. Eu, pessoalmente, acho essa decisão bastante respeitosa com os que vivem longe e importante para o processo de luto.
Antes do enterro acontece a missa de corpo presente. Nem aqui, nem na Holanda, nem na Espanha existe a missa de sétimo dia nem nunca se ouviu falar disso. Como esse processo de tornou tão rápido no Brasil é uma curiosidade que eu tenho assim como saber se essa rapidez tem paralelo em algum outro lugar do mundo ou é exclusiva nossa.
Se a preocupação é com a catalepsia, deixar o pseudo-defunto na geladeira da funerária não me parece a melhor coisa a se fazer…
É verdade, Flavio. Eu não tinha pensado por essa ótica. 😛
Ya aconteceu masi que uma vez que eu posso lembrar de pessoas que acordam bem na geladera. Sera uma experiencia bastante “creepy”.