A burrocracia da renovação de visto

burocracia

Depois de onze anos fora do Brasil e três países eu já devia estar acostumada com a papelada. Mas a criatividade dos serviços de imigração de cada país é tão grande que cada vez que chega a época de renovar o visto, o estresse é inevitável.

A nossa saga em Aruba começou dois anos atrás quando nos mudamos. Muita gente pensa que por estar casada com um arubiano e/ou por ter cidadania europeia (espanhola, além da brasileira) as coisas são mais fáceis e/ou mais rápidas. Doce ilusão. A nossa grande sorte foi que no dia da nossa chegada, o funcionário da imigração que nos interrogou conhecia bem os procedimentos. Não sei a experiência dos outros brasileiros, mas vir para Aruba sempre implica em ser interrogado pela imigração: querem saber onde você vai ficar, por que, etc. Sempre que vim, passei por um controle bem mais estrito que em qualquer uma das vezes que eu cheguei na Europa, independente do país. Pois bem, contamos a esse agente da imigração que estávamos casados desde 2004, mas nunca tínhamos morado em Aruba. Ele disse: vocês tem sorte! Mudaram a lei e quem se casou a partir de 2006 tem que fazer um procedimento bem mais longo e demorado. Custa mais de 600 florins. Mas no caso de vocês vai ser bem mais barato e rápido. Ficamos com aquilo na cabeça.

Já na primeira semana, tentei agilizar o processo do visto o mais rápido possível e sozinha porque meu marido começou a trabalhar dois dias após a chegada. Já na primeira vez que fui ao departamento de imigração, eu perguntei à funcionária que me atendeu: o que eu preciso fazer para pedir o visto? Sou casada com um arubiano desde 2004. Ela me deu um monte de papéis. Ao chegar em casa e ler o que eles pediam, quase tive uma síncope: uma lista de 16 itens de documentos que não tínhamos: antecedentes penais, declaração de estar em dia com o fisco, várias certidões que teriam que estar legalizadas no consulado ou com a apostila de Haia, além de uma taxa de 640 florins, o que no caso, era de menos. O problema era que eu não tinha aquela papelada toda e ia demorar muito para conseguir. Depois de dois dias do choque, eu me lembrei do que o agente da imigração tinha dito e resolvi voltar lá. Falei com outra funcionária e disse especificamente: quando eu cheguei, o funcionário da imigração me disse que quem se casou antes de 2006 tem um procedimento diferente, mais simples, a senhora pode verificar? Ela foi para dentro perguntar para alguém e voltou com uma lista de apenas 6 itens, dos quais eu tinha todos porque, ao ter acabado de conseguir minha cidadania espanhola, meus documentos espanhóis todos tinham sido emitidos há menos de seis meses, que era um dos requisitos da papelada. A taxa a pagar era de apenas 100 florins. Pois bem, consegui todos os papéis e fomos entregar juntos porque ao pedir o visto por casamento, é preciso ir à entrevista acompanhada do marido. Na hora da entrega, outra funcionária olha os nossos papéis e diz: quem deu esse formulário para vocês? Respondemos: a moça que dá informações aqui na frente. Ela: está errado. Não sei onde vocês conseguiram esses papéis, mas está tudo errado. Vocês precisam de vários outros que faltam aqui e a taxa não é essa, a taxa é de 640 florins. Bom, meu marido de pavio curtíssimo começou a gritar com ela e ela com ele…Enfim, muito calmamente, eu interrompi os dois e falei: senhora, no dia que chegamos, o funcionário da imigração nos comentou que o nosso procedimento é diferente porque nos casamos antes da mudança da lei em 2006. Dá para a senhora checar isso? Mais uma vez, a funcionária nos deixou e foi tirar suas dúvidas lá dentro. Ela voltou dizendo que estava tudo certo e que era para esperarmos a resposta pelo correio. O visto demorou oito meses em sair e agora finalmente está vencendo.

Na semana passada lá fui eu de novo, com a esperança de que a renovação fosse mais fácil dessa vez. Fui falar com a funcionária que dá os formulários e a primeira coisa que eu disse: eu me casei em 2004 e preciso renovar meu visto de residência. Ela vai e me entrega um formulário que me parece gigantesco. Eu digo: esse é o formulário para quem se casou em 2004? Ela: sim, é esse mesmo. Bom, chego em casa e a novela se repete: um monte de papéis e uma taxa de 640 florins (caso eu queira trabalhar) ou 150 florins, caso eu pedisse um visto só de residência, mas não de trabalho. Como eu tinha perguntado duas vezes se esse era o formulário para quem se casou em 2004, achei que o procedimento tinha mudado. Fui ao serviço de imposto para pagar a taxa e chegando lá me pedem o formulário original que tinha sido aprovado. Essa foi a minha sorte. Ao chegar em casa e ver o formulário anterior, me veio a dúvida: será que ela me entregou os papéis certos? Por que dessa vez estavam pedindo até uma declaração da minha sogra ou do meu sogro dizendo que eu sou uma pessoa de bem e responsabilizando-se pelas minhas ações em Aruba (!?) se antes não havia nada disso?. Bom, munida do formulário original e aprovado, voltei ao serviço de imigração, mostrei para a funcionária (a mesma) e disse: esse é o formulário do meu visto que está vencendo, qual é o que eu preciso preencher para renová-lo? E ela volta com um formulário igual ao que eu tinha, bem curtinho e com uma diferença: não tem taxa para pagar a partir da renovação! Além disso, quem se casou antes de 2006 sempre tem um visto de residência e trabalho, sem precisar pagar à parte.

Até hoje eu agradeço aquele bendito funcionário da imigração que nos recebeu em 2010…

13 ideias sobre “A burrocracia da renovação de visto

  1. Olá, Bel!

    Estou lendo seu blog agora e já adorei! Eu e meu noivo vamos praí fim de junho e início de julho, para passarmos a lua de mel (gostei muito da dica de informar que estamos em lua de mel e das dicas das gorjetas – já vou separar alguns dólares, rsrsr). Gostaria de saber se, para entrar no país como turista, há necessidade de visto ou somente passaporte válido.

    Obrigada e vou continuar lendo!

    Débora.

  2. Natalia,estive 6 vezes em Aruba nos últimos 7 anos. Meu marido teve um convite de um arubiano para comprarem um catamarã e montarem uma empresa. O governo facilita a abertura de empresa por brasileiros ou não?

  3. Olá, resido em Portugal aqui já tenho doc. e tive boas informações de Aruba, O documento daqui não ajuda em nada ai ???
    O que acha de trabalhar ai de domestica???

    • Não ajuda em nada, Nanda. Dá uma olhada no meu post sobre imigração. Eu não recomendo vir sem papéis, vc não tem direito ao sistema de saúde e se ficar doente ou precisar de um médico pode ser deportada. A ilha é muito pequena para se esconder.

  4. Bom dia….primeiro gostaria de dizer q adoro seu blog e que tenho algumas duvidas sobre opção de hotel,já li aqui que vc gosta do divi e queria saber se entre ele e o marriot tem muita diferenca

    • Oi Nallia. Ambos são muito bons, de estilo bem diferente. O Marriot é hotelão, tem o maior cassino de Aruba, tem um monte de piscinas e quarto luxuoso. O Divi All Inclusive é totalmente outro estilo. O grande atrativo é a própria praia, além das opções do que fazer lá dentro. É um hotel muito voltado para um público jovem e para a prática de esportes. Os quartos são menos luxuosos que o Marriot, mas ficam na praia, como muito a poucos metros dela.

  5. Oi Bel sou brasileira e conheci um arubianao brasileiro ( um brasileiro que vive em Aruba hà 24 anos) super gente boa, me pediu em casamento, mas agora lendo seu blog fiquei chocada com toda essa burocracia.

    • É burocrático sim, Mariana, se você puder vir, venha. Eu nunca vi alguém que tenha se arrependido de vir morar em Aruba. 😉

  6. Mais que a burocracia, isso que você relatou mostra o total despreparo da funcionária da imigração, que não conhece nem as leis que regem o trabalho que ela faz todos os dias, que era o mínimo que se podia exigir dela.

    • Obrigada pela força, Laura. Ainda estou em trâmite, esperando que cheguem meus documentos da Espanha. A única vantagem de ter cidadania espanhola é que a Espanha faz parte da convenção de Haia para a convalidação de documentos, então eu só preciso pedir uma cópia apostilada.

      Se fosse no Brasil, meus pais teriam que pedir a minha certidão de nascimento, depois reconhecer todas as firmas de quem assinou no cartório e depois encher o saco de alguém em Brasília ou São Paulo para ir ao consulado autenticar tudo. Muito mais tempo e trabalho.

      Estou esperando seus outros posts de Aruba, estou curiosa!

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